Dispositivos ópticos instalados nas câmeras de vídeo para fazer com que a imagem produzida por essas câmeras possa ter, a critério do operador, profundidade de campo reduzida para permitir o destaque de determinados elementos na cena. Tradicionalmente em cinema a pouca profundidade de campo vem sendo utilizada a décadas para conferir o efeito estético de chamar a atenção do expectador, uma vez que o olho humano possui tendência de buscar a nitidez dos detalhes no que vê. O exemplo clássico é o telefone que toca, em uma cena onde este telefone encontra-se em uma mesa, em primeiro plano, com os atores conversando em segundo plano. Inicialmente o primeiro plano está desfocado, sendo nítida a visão somente do segundo plano. Mas, a partir do momento em que o aparelho toca, junto com o som da campainha ocorre uma mudança estética na imagem: o segundo plano passa a ficar fora de foco, sendo este deslocado para o primeiro plano. A movimentação do foco entre planos recebe o nome de rack focus .

Em vídeo geralmente não é possível reproduzir esse efeito com facilidade, devido ao tamanho da área dos sensores (CCDs ou CMOSs) utilizados na maioria de suas câmeras ser muito menor do que a área utilizada nas câmeras de cinema e mesmo fotografia, como mostra a figura abaixo, onde as proporções reais estão preservadas:

Se colocarmos diante de um sensor desses uma objetiva utilizada em uma câmera still ou cinematográfica de 35mm (onde "35mm" é a referência à largura do fotograma), com ângulo de visão normal , a imagem formada sobre ele será apenas uma pequena parte da área total da imagem, como se estivéssemos utilizando ali uma lente tele-objetiva . Para manter o mesmo ângulo de visão é preciso mostrar mais, e para mostrar mais é preciso trocar esta lente normal de 35mm por outra lente, porém grande-angular, de 35mm. Porém um efeito adverso ocorre agora: lentes grande-angulares possuem pequena profundidade de campo. Na realidade, as câmeras de vídeo que possuem sensores pequenos (todas do segmento consumidor e semi-profissional, e a maioria das câmeras do segmento profissional) possuem lentes tele-objetivas (ou podem possuí-las) que permitem variar a distância focal, mas dentro de uma faixa correspondente ao ajuste grande-angular para a referida lente de formatos 35mm acima.

Por este motivo é impossível obter-se em vídeo a mesma profundidade de campo proporcionada pelo cinema, a não ser que sejam utilizados sensores maiores (existem câmeras empregadas em cinema digital com sensores do tamanho de um negativo 35mm) ou então dispositivos adaptadores de lentes.

Estes dispositivos funcionam através de um princípio análogo ao empregado nas câmeras fotográficas reflex tradicionais para permitir que o usuário enxergue a imagem projetada pelas lentes antes de pressionar o obturador mecânico. A luz , ao passar pela objetiva é refletida por um espelho móvel que, disposto em ângulo de 45 graus impede que a mesma atinja a superfície do filme, direcionando-a para a parte superior da câmera. Somente no momento em que a foto vai ser feita o espelho sobe (acionado pelo botão do disparador), permitindo que a luz atinja o obturador colocado atrás do mesmo e daí o filme. No entanto, antes disso acontecer, com o espelho abaixado, é preciso haver algo onde a luz forme a imagem, para que o observador a veja através da ocular e possa enquadrá-la e efetuar ajustes, normalmente através de um prisma (pentaprisma) colocado mais acima no corpo da câmera. Este local onde a imagem forma-se é um vidro fosco (despolido). Se fosse totalmente opaco, nada seria visto do outro lado, e se fosse totalmente transparente, nenhuma imagem ali seria formada.

Os adaptadores de lentes tomam emprestado, das câmeras fotográficas reflex tradicionais, este vidro despolido. Sua parte frontal possui uma lente 35mm que projeta a imagem sobre o vidro despolido. Como este vidro possui a dimensão do negativo 35mm, permite obter-se toda a escala de profundidade de campo desejada, assim como utilizada em cinema. Do outro lado do vidro despolido aproxima-se do local uma câmera de vídeo comum, tomando o cuidado de enquadrar corretamente a imagem formada no vidro, de modo a ocupar todo o tamanho do sensor da câmera. Este princípio, ou seja, obter-se a "imagem da imagem", é a forma de trabalhar do adaptador de lentes.

A ilustração abaixo ilustra o processo:

O retângulo central cinza escuro esquematiza os elementos que compõem o adaptador, incluindo a lente frontal acrescentada pelo usuário. Logo atrás desta lente encontra-se o vidro despolido, onde forma-se a imagem - invertida. E é esta imagem que será focalizada pela câmera, com o auxílio da lente macro para focalização próxima. O retângulo cinza claro representa a câmera de vídeo. Sobre o CCD / CMOSs surge a imagem - não-invertida. No entanto a câmera irá inverter a orientação da imagem, como sempre faz com as imagens projetadas sobre a superfície desses sensores, pois é como as lentes a montam. Isso mostra uma das dificuldades enfrentadas com o trabalho utilizando adaptadores, que no entanto pode em alguns casos ser contornada. São os casos de modelos de adaptadores que acrescentam na montagem prismas (geralmente pentaprismas, também derivados das câmeras still acima mencionadas), devido à sua capacidade de desinverter a imagem nos dois sentidos (horizontal - vertical e acima - abaixo). Se assim não for feito, para maior facilidade de monitoração pode ser utilizado um monitor externo do tipo LCD, fisicamente invertido (que, no entanto, mantém a inversão horizontal - vertical inalterada). Nesses casos também será necessário na fase de pós-produção empregar um efeito do tipo flip para desinverter a imagem de todo o conteúdo produzido.

O fato do uso da "imagem da imagem", através do vidro despolido, confere algumas características adicionais ao resultado final, além do efeito estético da profundidade de campo, entre elas, um ligeiro escurecimento mas, sobretudo, uma tonalidade com efeito "fog" devido à granulação, aproximando ainda mais o aspecto da imagem à do cinema ao retirar uma parcela do excessivo contraste e nitidez característicos da imagem do vídeo.

Se a câmera de vídeo possuir objetiva fixa (como as do segmento consumidor e a maioria das do segmento semi-profissional) torna-se necessário uma lente adicional entre a objetiva da câmera e o adaptador, para permitir a focalização e enquadramento próximos do vidro despolido. Em câmeras nas quais a objetiva pode ser removida (intercambiável)esta lente não é utilizada.

Existem diferentes implementações do mesmo princípio, variando principalmente a abordagem utilizada na montagem do vidro despolido. Isso porque percebeu-se logo no início, com o primeiros modelos, que os minúsculos grãos que compõem sua superfície poderiam, em determinadas circunstâncias, tornarem-se visíveis na imagem, principalmente com o uso de aberturas pequenas ou com formatos de alta-definição( HD ).

As figuras abaixo mostram alguns dos diversos modelos de adaptadores de lentes existentes. O adaptador mostrado abaixo (Indie35 da Indie) possui estrutura bem básica, na forma de um simples tubo, dentro do qual estão o vidro despolido e a lente close-up, tendo à sua esquerda encaixada a lente 35mm.

O adaptador mostrado abaixo (Mini35 da P+S Technik) é mais complexo, incluindo na sua construção o prisma para desinverter a imagem (o que explica a angulação do aparelho em forma de "S"). A figura mostra, da esquerda para a direita, a objetiva 35mm, o adaptador (podendo-se ver sua alça superior de suporte), a lente de close-up e a câmera de vídeo. Para ajudar na sustentação do dispositivo, um conjunto de longarinas é fixo na base da câmera. Este adaptador emprega vidro despolido do tipo vibratório (necessita de energia de baterias para funcionar):

O adaptador a seguir (M2 da Redrockmicro) é do tipo intermediário em termos de custo e complexidade, empregando ao invés de um vidro despolido vibratório, um vidro que gira na forma de um disco (decorrendo daí sua forma prolongada para a parte inferior e necessitando também de energia de baterias para funcionar). Da esquerda para a direita, vê-se a lente 35mm, o adaptador e uma peça especial (opcional no modelo) contendo um prisma para desinverter a imagem. Abaixo do conjunto vêem-se também as longarinas utilizadas:

Assim, enquanto em algumas implementações mais simples o vidro despolido é fixo, em outras, alimentado por motores elétricos ele vibra e em outras ele gira, justamente para desfocar essas imperfeições. O resultado final, apesar dos problemas de escurecimento e outros aproxima-se bastante da estética empregada em cinema, fazendo com que diretores tragam para estas câmeras de vídeo, além destes, outros acessórios, típicos de uso com trabalhos em películas, como dispositivos para auxílio na precisão e controle de foco ( follow focus ), para proteção de luminosidade ( parassóis ) e para encaixe de filtros (matte box), como mostrados na figura abaixo: