Você está passeando pelo set de filmagens quando escuta a seguinte conversa entre dois técnicos:

- o diretor pediu para corrigir a luz naquele canto do cenário, colocar uma mais quente.

- isso mesmo, vou trocar a de 4500 ºK por uma de 3200 ºK, quanto mais quente melhor.

E você continua andando, mas... alguma coisa parece errada... se ele queria mais quente, por que usar uma luz de temperatura mais baixa? Na verdade qualquer coisa ali naquele set poderia estar errada, menos essa afirmação, que está absolutamente correta. Acontece que o vídeo e o cinema herdaram muita coisa do mundo da fotografia, e um conceito consagrado entre os fotógrafos é o de luz "quente" e luz "fria". Iluminação quente está associada a cores tendendo ao vermelho, que lembram o fogo. Assim, diz-se que o vermelho, o laranja, são cores quentes. Por outro lado, iluminação fria está associada a cores tendendo ao azul, que lembram água, gelo. Assim, diz-se que o verde, o azul, são cores frias.

Mas o conceito de temperatura de luz vem de uma experiência da Física, facilmente reproduzida por qualquer um e que logo vai mostrar por que a conversa dos técnicos estava correta. Aqueça um pedaço de ferro (um prego por exemplo, seguro por um alicate) na chama do fogo e observe o que acontecerá. Inicialmente, você verá ele mudará de cor, ficará vermelho escuro (rubro). Mantenha o aquecimento. A cor aos poucos mudará para uma tonalidade alaranjada. Mais um pouco e surge o amarelo. Se você conseguir aquecê-lo mais ainda (depende da potência da chama), verá surgir o verde claro, depois o azul claro até atingir o azul escuro.

Lord Kelvin, um físico escocês que viveu no século 19, já sabia que a luz branca era formada a partir da soma de todas as outras cores e que cada cor individualmente poderia ser obtida aumentando-se a proporção de um ou de outro componente, como o vermelho, o azul, etc... Mas ele queria encontrar uma forma de medir os desvios de proporção na composição da luz branca, e então, teve uma idéia: imaginou um objeto totalmente negro, que absorveria 100% de qualquer luz que incidisse sobre ele. Chamou-o de "corpo negro" e propôs que, quando o mesmo fosse aquecido, da mesma forma que a barra de ferro, passaria a emitir luz. E ainda em analogia à barra de ferro, a tonalidade da cor da luz emitida iria mudando conforme a temperatura aumentasse.

Criou então uma escala de temperaturas, à qual modestamente deu seu nome, e estabeleceu que à temperatura de 1200 ºK (graus Kelvin) o corpo negro tornaria-se vermelho. E quanto mais aquecido, mais sua tonalidade se alterava, correspondendo a temperaturas intermediárias. Assim, a escala Kelvin de temperatura de cor associa cor e temperatura, como mostra a figura abaixo:

A escala Kelvin, além de ser utilizada na representação de cores, também é uma das escalas utilizadas para medir quaisquer temperaturas. Nesta escala, o valor zero é associado à temperatura correspondente ao chamado "zero absoluto", a temperatura mais fria que poderia existir no Universo inteiro. Para se ter uma idéia, essa temperatura corresponde a 273,3 graus Celsius negativos. À temperatura de mais ou menos 973 ºK (em torno de 700 ºC) o corpo negro começaria a emitir luz, com a tonalidade vermelho escuro. Essa associação de cor e temperatura feita pelo Lord foi validada mais tarde em diversas experiências efetuadas pelos cientistas.

A tabela a seguir mostra algumas fontes de luz e temperaturas Kelvin associadas:

Observe, comparando com a escala Kelvin da ilustração anterior, a tonalidade da luz do fogo e da luz da vela. Logo mais acima, a das lâmpadas alaranjadas que iluminam as ruas. Mais acima, as lâmpadas incandescentes que você tem na sua casa. Repare a seguir que a luz do Sol muda de temperatura ao longo do dia ( de 3.200 a 6.000 ºK), repare também nos dias nublados. Veja em destaque a temperatura das luzes utilizadas normalmente em vídeo. Seguindo a tabela, você verá outros tipos de iluminação e suas correspondentes temperaturas.

E agora, o "pulo do gato": a regra básica para se obter uma boa reprodução de cores é nunca misturar luzes de temperaturas diferentes. Esquentando ou esfriando suas luzes (com o uso de gelatinas coloridas) ou trocando-as, você obterá uma iluminação equilibrada. Ou, como disseram (acertadamente) os técnicos, quanto mais quente melhor.