o cinema é anterior ao advento da televisão; quando esta foi criada, já existia uma quantidade enorme de filmes feitos. Estes filmes eram registrados em películas nas quais a proporção da imagem no fotograma era 4:3 (1,33:1). Esta proporção foi sugerida a Thomas Edson no ano de 1889 por George Eastman, que na época fabricava filmes em rolo para sua máquina fotográfica Kodak. Thomas Edson acabara de inventar o kinetoscópio (o princípio do cinema) e precisava de filmes para usar em sua recente criação. Os rolos de filmes fabricados por George possuíam 70mm de largura: este propôs então a Edson que os rolos fossem cortados ao meio e as duas partes emendadas, nascendo assim a bitola de 35mm. Dentro desse espaço, Edson reservou as margens para as perfurações que tracionavam o filme e desenhou no espaço restante o retângulo na proporção 4:3 .

Esta proporção permaneceu inalterada até o advento do cinema sonoro, no final dos anos 20; a trilha sonora óptica, adicionada nas cópias enviadas aos cinemas, não deixava espaço para que a proporção 1,33:1 fosse mantida, fazendo com que as imagens ficassem com aspecto mais quadrado do que retangular. Após um período de indecisões, avaliações e queixas de exibidores em relação a suas telas originais instaladas no aspecto 4:3, a Academy of Motion Pictures Arts and Sciences, em 1932, restaurou a proporção antiga, ou melhor, algo bem próximo dela, diminuindo ligeiramente a altura da janela de imagem no negativo tanto na filmagem como na projeção através do uso de máscaras acima e abaixo do quadro, resultando na proporção que passou a ser conhecida como Academy aspect ratio, de 1,37:1, que se adaptava sem maiores problemas às telas 1:33 dos projetores.

Quando a TV foi criada, definiu-se que o tamanho de sua tela deveria ser também 4:3, para que pudesse exibir os filmes até então existentes, tanto os da proporção 1:33 como os da proporção 1,37:1 - a diferença de tamanhos, mínima, não afetava o resultado final.

A partir de 1953, com o lançamento do CinemaScope pela 20th Century Fox com o filme bíblico "The Robe" (O Manto Sagrado), a imagem exibida nas telas dos cinemas aumentou em largura (widescreen). Uma lente especial, denominada anamórfica ('sem forma', 'deformado', criada pelo físico francês Henri Chrétien), encolhia a imagem, comprimindo-a horizontalmente no negativo de 35mm durante a filmagem. Posteriormente, no momento da exibição, uma lente inversa fazia a descompressão, gerando uma imagem na proporção de 2,55:1 . O nome anamórfica deriva do fato de que quando se observa a imagem comprimida no negativo, as formas estão distorcidas, na verdade 'esticadas' verticalmente:

Chrétien desenvolveu inicialmente seu sistema de compressão e descompressão de imagens para uso militar, dentro de tanques, para possibilitar, através do periscópio existente nos mesmos, uma visão mais abrangente do que ocorria ao redor. O formato de filmes que utilizam compressão da imagem é denominado anamorphic widescreen format.

Outros formatos anamórficos se seguiram, utilizando proporções diferentes, como o Panavision (2,40:1), Ultra Panavision 70 (2,76:1), Super Panavision 70 (2,20:1), VistaVision (1,85:1), Todd-AO (2,35:1), Technirama (também 2,35:1) e outros. Em alguns formatos, a película utilizada era de 70mm ao invés de 35mm. Atualmente no entanto, o processo anamórfico mais utilizado é o Panavision.

É possível trabalhar-se em vídeo com o formato widescreen (widescreen vídeo), através de recursos utilizados desde a captação das imagens até o momento da pós-produção.

Nem sempre, no entanto, é utilizada compressão para se registrar imagens mais largas no negativo de 35mm: em um outro processo, mais utilizado atualmente, denominado flat widescreen format, a imagem não é comprimida e o efeito de tela larga é conseguido considerando-se que apenas uma faixa do fotograma será exibida:

Na figura, as partes superior e inferior às linhas brancas podem ser mascaradas na câmera no momento da filmagem ou no laboratório no momento da confecção das cópias para distribuição, opções denominadas Hard Matte. Ou podem permanecer sem máscara alguma (esta última opção denominada Open Matte ou Soft Matte, como no exemplo acima, onde toda a área do negativo é exposta): neste caso, no momento da exibição em sala, o projecionista deve utilizar uma máscara no projetor e uma lente correta para projetar a àrea interna às linhas brancas ocupando toda a tela. A lente amplia a imagem dentro das linhas brancas acima para toda a altura da tela, descartando o que está acima e abaixo das mesmas. Os formatos utilizados com este processo são 1,66:1 e 1,85:1 (europeu e americano - vide abaixo). Se o formato utilizado for o 1,66:1 uma pequena faixa vertical é descartada de cada um dos lados do fotograma pela máscara no projetor.

Se no entanto, durante a projeção em sala, for utilizada por engano máscara e lente incorretos, utilizados para projetar filmes não-widescreen, no formato completo 35mm, e o filme tiver sido registrado no formato Open Matte, o conteúdo acima e abaixo das linhas (e eventualmente à esquerda e à direita, no formato europeu) aparecerá na tela, o que causará problemas - o que existe nessa área não faz parte do filme, como microfones utilizados na filmagem por exemplo que poderiam neste caso aparecer).

O mesmo problema (exibição de partes indesejadas do fotograma) pode ocorrer se por erro um filme registrado no formato Open Matte for transposto para vídeo no formato fullscreen (ocupando toda a tela), sem a redução da imagem e utilização de faixas pretas (veja adiante).

Em filmagens com este tipo de formato (flat widescreen), geralmente existem linhas marcadas no monitor que mostra o que está sendo gravado na câmera cinematográfica, de maneira semelhante às linhas brancas na imagem acima, para guiar o enquadramento correto a ser feito pelo operador. As máscaras mais utilizadas são 1,66 :1 (em filmes europeus, conhecida como European widescreen) e 1,85 :1 (em filmes americanos, conhecida como American widescreen ou Academy Flat). A proporção 1,66:1 pode ser obtida diretamente (sem o uso de máscaras) através do emprego da película Super-16mm (ao invés da 35mm), uma vez que o seu fotograma possui exatamente esta proporção - no laboratório o mesmo é posteriormente ampliado para 35mm.

Um outro tipo de formato atualmente em uso (também flat widescreen) é o Super35. Neste caso, é utilizada uma máscara de 2,35:1 , reproduzindo a proporção de imagem do CinemaScope sem o uso das lentes anamórficas. Ao mesmo tempo (este é um formato do tipo Open Matte) é considerado no mesmo fotograma o enquadramento na proporção 1,33:1 da tela comum de TV. Neste caso, como indicado na figura abaixo, o filme é registrado com os dois enquadramentos ao mesmo tempo - porém aparecerá na TV mais conteúdo acima e abaixo da tela e no cinema mais conteúdo à esquerda e à direita:

A área exibida nas salas de cinema é indicada pelas linhas vermelhas, enquanto que as amarelas indicam a proporção utilizada na versão a ser exibida em TV. A exceção geralmente ocorre em cenas que utilizam efeitos especiais (manipulação por computação gráfica por exemplo): por ser um processo dispendicioso, opta-se por utilizá-los apenas no enquadramento para cinema, não no negativo todo; estas cenas então sofrem o processo pan scan (descrito adiante) na transferência para a versão TV.

A figura abaixo mostra alguns dos formatos de tela larga, em comparação com as dimensões da tela da TV convencional e da TV de tela larga (o formato Ultra Panavision 70 não é mais utilizado e o formato CinemaScope foi reduzido em relação à sua dimensão original, de 2,55:1 para 2,35:1 para comportar as 4 pistas sonoras do som estereofônico):

Quando estas imagens são mostradas na tela de uma TV tradicional, desejando-se manter a mesma proporção com que foram captadas para cinema, torna-se necessário reduzí-las para que caibam na tela. Através de um processo que gera imagens de tela larga para serem exibidas na tela normal de 1,33:1 da TV, denominado widescreen ou letterbox, a parte superior e inferior da tela deixam de ser utilizadas; em seu lugar, são colocadas faixas, na cor preta (para melhor contraste) chamadas black bars. Muitas vezes a faixa inferior é aproveitada para a colocação de legendas.

Como as proporções das imagens utilizadas em cinema variam bastante, como exemplificado na figura acima, também da mesma forma varia o tamanho destas faixas pretas colocadas na imagem: quando mais larga a imagem no fotograma cinematógráfico maiores serão as dimensões das barras pretas e menor será a altura da imagem (em outras palavras, a imagem estará menos ampliada):

Quando estas imagens são mostradas na tela de uma TV de tela larga (16:9), ainda assim, de acordo com a figura comparativa de formatos acima, conforme o formato utilizado na filmagem serão necessárias faixas pretas horizontais e a redução do tamanho da imagem. Outra opção é distorcer a imagem (stretch), esticando-a verticalmente para que caiba na tela, efeito este propiciado opcionalmente pelo circuito eletrônico deste tipo de aparelho de TV. Alguns filmes no formato 1,85:1 / 1,66:1 são distribuídos em DVD já artificialmente distorcidos (esticados) para a proporção 16:9, processo denominado "16:9 Enhanced".

Dentre os formatos da figura comparativa acima, o único que melhor adapta-se às dimensões padrão da TV de tela larga é o Open/Hard Matte 1,85:1 (formato americano); neste caso, ao invés de distorcer a imagem, o televisor pode opcionalmente ampliar a imagem (zoom), ocorrendo com isto um pequeno corte nas margens esquerda e direita para preencher toda a tela. A figura abaixo ilustra o que acontece em um televisor de tela larga quando é exibido um filme com proporções maiores do que sua largura:

Na figura da direita as proporções não são iguais às originais do fotograma (a imagem está 'esticada' verticalmente, o que acarreta o efeito de pessoas aparentarem ser mais magras e altas do que realmente são). Na figura da esquerda as proporções são iguais, e o televisor acrescenta as faixas pretas. Se, por outro lado a proporção fosse 1,66:1 (formato europeu) apareceriam pequenas faixas verticais pretas nas laterais - a imagem no filme é ligeiramente menos larga. Da mesma forma, opcionalmente a imagem pode ser 'esticada' horizontalmente pelo aparelho para preencher todo o quadro.

Assim, TVs de tela larga não possuem "formato de cinema", uma vez que são vários os formatos utilizados em cinema e nenhum deles na proporção 16:9 (Jurassic Park e Batman Forever, por exemplo, utilizam a proporção 1,85:1 - padrão americano - e Terminator 2 e Stargate utilizam 2,35:1 - CinemaScope).

A proporção básica de imagem utilizada em HDTV é a 16:9, porém os atuais aparelhos de tela larga são incapazes de receber sinais deste tipo provenientes da maioria dos sistemas de alta definição sem o uso de adaptadores (além de disto, o televisor deve suportar as 1.080 linhas de resolução vertical utilizadas em HDTV).

Quando estas imagens são mostradas na tela de uma TV tradicional e deseja-se ocupar todo o espaço da tela com a imagem (fullscreen), torna-se necessário cortar a mesma lateralmente, para que caiba na tela. Neste processo, denominado pan scan, um editor analisa o filme take a take em um equipamento que faz a copiagem da película e que dispõe de uma "janela" que pode ser deslocada para a esquerda ou para a direita, através da qual pode ser decidida qual parte do fotograma será cortada. Em média, estes cortes chegam, conforme o formato original, a eliminar de 20% a 44% do que foi exibido na versão para cinema:

Em situações por exemplo onde existam dois personagens dialogando, um em cada canto da imagem, o editor de pan scan terá que optar por mostrar apenas um deles. Entre as desvantagens deste processo, além da perda da visualização de imagens e personagens (com o consequente desequilíbrio do enquadramento e a alteração do espaço físico da cena), estão a perda na percepção de movimento em cenas de ação (quando um pedaço da espada movimentada pelo lutador não aparece por exemplo) e a perda de impacto visual em cenas de simetria (em uma cena de fileiras de soldados marchando por exemplo, à esquerda e à direita da imagem - muitas vezes neste caso o editor de pan scan pode tentar deslocar a "janela" de um lado para outro, se houver, tempo disponível na tomada).

Alguns exemplos de filmes e processos utilizados:

- Evil Dead II (1987, Open Matte)
- Shrek (2001, Hard Matte)
- Titanic (1997, Super35)
- Anastasia (1997, Panavision)
- Vida de Inseto (1998, CinemaScope)
- 2001: Uma odisséia no espaço (1968, Super Panavision 70)
- Ben Hur (1959, Ultra Panavision 70)
- Os 10 Mandamentos (1956, VistaVision)
- Cleopatra (1963, Todd-AO)
- Spartacus (1960, Technirama)
- Casablanca (1943, Academy)

Um filme em formato anamórfico é armazenado em um DVD da mesma forma em que está no fotograma a ser exibido na sala de projeção: com imagens comprimidas horizontalmente. O televisor de tela larga encarrega-se de expandí-la automaticamente, no eixo horizontal, acrescentando faixas pretas horizontais / verticais. Ou então pode ser solicitado o preenchimento total da tela - com a deformação da imagem. Para um filme em formato não-anamórfico não ocorre expansão automática: a imagem fica menor na tela (com as faixas pretas nos 4 lados. Neste caso pode ser solicitado opcionalmente o preenchimento total da tela - com menor distorção, uma vez que a imagem possui menor largura.

O nome "Panavision" tornou-se também o nome da empresa fabricante de câmeras e lentes para cinema, nem sempre no processo anamórfico. Assim, um filme com os dizeres nos créditos "Filmed with Panavision" foi filmado utilizando câmeras e lentes desta empresa e não é anamórfico, enquanto outro com os dizeres "Filmed in Panavision" é anamórfico.

A maioria das salas de exibição atualmente utiliza 4 tipos de lentes de projeção, conforme o tipo de formato do filme a ser exibido: CinemaScope / Panavision (2,35:1 / 2,40:1), Matte 1,66:1, Matte 1,85:1 e 35mm fullscreen (1,33:1).

Algumas câmeras de vídeo possuem como efeito especial o formato widescreen. Em sua forma mais simples, faixas pretas são acrescidas na parte superior e inferior da imagem, resultando em um imagem na proporção 16:9, processo denominado matted widescreen.

Outra versão de efeito widescreen utiliza compressão horizontal, em um processo denominado anamorphic widescreen. Neste caso, faixas pretas são acrescidas na parte superior e inferior da imagem registrada pelo(s) CCD(s), fazendo com que a imagem exibida no viewfinder / LCD seja mostrada na proporção 16:9 . Quando a mesma é gravada na fita, é comprimida horizontalmente e ampliada verticalmente, para ocupar todo o quadro 1,33:1 do padrão de TV. Assim, ao ser exibida em um aparelho de TV normal, o aspecto será o da imagem comprimida. Porém, ao ser exibido em um aparelho de tela larga (16:9), o aspecto será o mesmo mostrado no viewfinder / LCD no momento da gravação.

O efeito anamorphic widescreen no entanto acarreta perda de resolução na imagem gerada, devido à ampliação vertical efetuada. Existe no entanto a possibilidade de serem geradas imagens na proporção 16:9 sem perda de resolução, através da adaptação na objetiva da câmera, no local de encaixe de filtros, de uma lente anamórfica, vendida por fabricantes como acessório para determinados modelos de câmeras.