Existe um movimento de tecnologias que vão aos poucos perdendo o rótulo de aplicações caras, sofisticadas e restritas e ganhando mais popularidade. Sempre foi assim e os exemplos estão por toda parte, desde técnicas utilizadas no câmbio de carros de F1 a novos tratamentos médicos. Essa migração de tecnologias para camadas mais abrangentes da população vem muitas vezes acompanhada da necessidade de adaptações e estudos sobre como interagir com a novidade.

Um exemplo é o freio ABS dos veículos e, mais particularmente na área de registro de imagens, as diferentes formas de registrá-las que tem-se sucedido ao longo dos anos. Esse registro, que nasceu em películas, migrou aos poucos para o grande público até chegar aos formatos de 8mm (Standard, Single e Super-8). Uma fase de aprendizado foi necessária para aprender-se o ato de filmar, antes restrito aos cineastas.

Com o vídeo ocorreu o mesmo, tendo saído das máquinas fixas dos estúdios, em fitas de 2 polegadas de largura no início da década de 60 para a popular fita VHS, depois com as variações VHS-C, S-VHS, S-VHS-C e as de 8mm (Standard, Hi-8, entre os mais conhecidos).

Quando os computadores passaram a fazer parte do dia a dia da videoprodução, novo aprendizado tornou-se necessário quando grandes obstáculos surgiram: limitações de memória RAM e velocidade de processador tinham que ser superados. No segmento semi-profissional, o desafio era editar o formato DV e gravar os recém lançados DVDs "R" e "RW". Em captação, algumas coisas mudavam e o Mini-DV trazia resolução equivalente ao profissional Betacam-SP quando utilizado com os cuidados adequados em câmeras topo de linha.

Superada essa fase, vem um novo desafio: o HD, com novas exigências em termos de capacidade de processamento e memória, os diferentes plug-ins e softwares específicos. No lado da captação, a constatação de que gravar em HD não era o mesmo que gravar em SD com a simples troca de equipamento - novas técnicas, acessórios e cuidados vinham junto.

Aproxima-se agora a nova onda, a cada dia mais comentada e divulgada: a captação em 3D. Novamente, como aconteceu antes, muita coisa terá que ser reestudada: a iluminação é diferente, assim como o projeto das cenas a serem montadas, o manuseio de angulação das câmeras gêmeas, o seu posicionamento e os efeitos esperados vistos pelo público, etc...

Assim é o movimento ocorrido nas diferentes áreas da tecnologia: quando alguma aplicação já se espalhou e tornou-se de uso corriqueiro, novos desafios em termos de aprendizado virão para lidar com aplicações mais complexas. E é inevitável que cedo ou tarde estejamos também familiarizados com elas: como não é só a tecnologia em si que surge e sim todo um movimento do mercado em torno dela, manter-se alheio seria o mesmo que estar hoje realizando gravações em vídeo com uma câmera VHS RCA da década de 90 - excetuando-se clubes dos amantes das tecnologias antigas (como o vinil por exemplo).