O tema volta a aparecer: outro leitor de jornal escreve para reclamar que ao assistir a um longa (Up - Altas Aventuras) no cinema ficou frustrado porque haviam "duas enormes faixas pretas nas extremidades da tela durante a exibição". Este e outros frequentadores das salas de cinema, por desconhecimento acabam iludidos com suas TVs de tela larga, 16:9, onde assistem filmes preenchendo a tela toda. Para eles provavelmente esse é o formato de tudo o que se entende por cinema, não compreendendo o porquê das tais faixas pretas na tela.

Para começar, o cinema experimentou dezenas de tamanhos de quadro de imagem ao longo de seus mais de 100 anos de vida. Uns mais estreitos, outros mais largos, mas nenhum exatamente na proporção 16:9, a das telas widescreen dos televisores atuais. Por este motivo, assistir um filme na TV de tela larga em sua proporção original significa ter sempre a presença de faixas pretas, ou horizontais ou verticais, em tamanhos variáveis.

O que acontece nesse caso é que muitos usuários aproveitam um comando que todas essas TVs tem no controle remoto: a possibilidade de "esticar" a imagem para os lados para preencher toda a tela. Como o próprio nome diz, ao esticar distorcem-se as proporções: as pessoas ficam com rostos largos, ovalados, os carros sedans ficam parecidos com compridas vans e daí em diante. É interessante observar como não são poucas as pessoas que preferem ver seus programas favoritos com imagem distorcida ou nem mesmo percebem o que está ocorrendo. Talvez uma parcela menor delas até gostaria de modificar a imagem mas não sabe como fazer isso no controle remoto. É curioso observar em hotéis como na quase totalidade das vezes a imagem nos televisores dos quartos está desse modo...

No cinema essa restrição física de formato de tela não existe: ali a tela já é montada com as dimensões do maior tamanho de janela de filme a ser projetado. O que significa 2,35:1, um dos 3 formatos dominantes atualmente no segmento cinematográfico - os demais são o 1,85:1 e o 1,66:1, o mais estreito dos 3. As dezenas de outros formatos já não são mais utilizados em filmes novos e filmes antigos tem que ser reenquadrados em um desses formatos para poderem ser projetados, já que toda a indústria está adaptada a eles - exceto casos fora do circuito normal, como IMAX, 16mm e outros. Assim, é perfeitamente normal a existência de barras pretas nas laterais da tela do cinema quanto ela não é utilizada em toda sua extensão, caso dos formatos 1,85:1 e 1,66:1.

Na projeção digital acontece o mesmo: o DCI (Digital Cinema Initiative), comitê criado pelos setegrandes estúdios de Hollywood (Warner, Fox, Universal, Sony, Paramount, Disney e DreamWorks) propôs essas mesmas proporções para a projeção digital. Assim, do mesmo modo as barras pretas irão permanecer, até mesmo porque a captação digital, se feita em formato HD, tem proporção 16:9, que se aproxima muito do 1,85:1 portanto deixando barras nas laterais, embora seja possível também captar digitalmente em formato 2,35:1 - este, sem as barras.

Enfim, a questão das barras, em casa ou no cinema irá sempre estar presente, culpa do nosso mundo, variável em tantas outras coisas, de padrões de medidas e tipos, usos e costumes diversos.