No final dos anos 90 dois diretores decidiram fazer um filme de terror contando a história (inventada) sobre três jovens que desapareceram em uma floresta. O roteiro, que incluía os 3 jovens, atores amadores, uma bruxa, uma câmera cinematográfica de 16mm e uma de vídeo no formato Hi-8, transformou os 35.000 dólares investidos em milhares de dólares mundo afora.

Mesmo fazendo parte do roteiro do falso documentário, as imagens "encontradas" na câmera de vídeo localizada na floresta contribuíram para o sucesso de The Blair Witch Project (A Bruxa de Blair). Da mesma forma que anos mais tarde imagens gravadas com uma Mini-DV Canon XL1 seriam mescladas pelo diretor Soderbergh em seu Full Frontal, contrapondo-se claramente às imagens em película 35mm, o cinema a partir de certa época usava e ousava mostrar imagens capturadas em formatos de vídeo amador nas grandes telas.

O fato é que a dupla cenas em vídeo + cenas em película evoluiu para alguns filmes feitos inteiramente a partir de captura em vídeo, notando-se aqui que estamos nos referindo a formatos de vídeo SD (Standard Definition), nada parecido com as altas resoluções em voga hoje em dia. A lista de filmes que empregaram trechos de vídeos SD é grande.

Em Jackass, The Movie, a maior parte das cenas foi capturada com uma Sony PD150 (modelo anterior ao da atual 170), e ainda Canon XL1 e mesmo a TRV900, conhecida pela imagem considerada por muitos melhor do que as da VX1000, ambas da Sony. Apesar de algumas cenas terem utilizado o formato Digital Betacam, destaca-se a grande participação dos equipamentos acima, semi-profissionais SD.

Na sequência, Jackass 2, apesar do uso da Panasonic HVX200 gravando em 720/24p em algumas cenas (neste caso, captura em HD) e de um ou outro equipamento diferente (como a SDX900), usou-se principalmente uma simples DVX100B da Panasonic.

Michael Moore, o cineasta de Tiros em Columbine entre outros, tem acrescentadas cenas capturadas com equipamentos SD em seus filmes. A lista de filmes que utilizam trechos de vídeo SD não pára por aí: SuperSize Me, Chuck & Buck, Julien Donkey Boy, The Celebration (Festa de Família), Open Water (Em Àguas Profundas), 28 Days Later (Extermínio), Tadpole (Um Jovem Sedutor), Personal Velocity (O Tempo de Cada Um) e muitos outros.

E a lista dos filmes capturados integralmente em SD, no formato Mini-DV, também não é pequena: A Scanner Darkkly (O homem Duplo), Iraq In Fragments (Iraque em Fragmentos), The Aristocrats (Os Aristocratas), 9 Songs (9 Canções), Mad Hot Ballroom (Vamos Todos Dançar), Murderball (Espírito de Combate), November e ainda outros mais.

Isso mostra que não existe uma exigência técnica limitando o uso de equipamentos de baixo custo ao invés das caríssimas Vipers, Dalsas e Arris Digitais dos grandes estúdios.

Mesmo quando vemos o padrão SD mudar para o High Definition com filmes capturados em HD como Borat (720p), Sarah Landon (também 720p) e mais de uma centena de outros, podemos refletir que todos esses filmes foram capturados com câmeras na faixa de 6.000 dólares ou um pouco mais que isso. Equipamentos acessíveis ao orçamento de muitos cineastas, permitindo a execução de seus projetos e sua distribuição nas grandes telas. Obviamente um entrave até então tem sido o custo muito alto da transferência do vídeo finalizado para a película.

Algo que o Cinema Digital que está por vir definitivamente irá, com certeza eliminar.