Quando, em 2002, o plano - a criação de um exército de clones para auxiliar os cavaleiros Jedi a manter a paz na galáxia - saia do storyboard direto para os estúdios da IL&M, a Industrial Light & Magic dava um passo que viria a tornar-se um marco na cinematografia. O diretor George Lucas havia encomendado à Sony uma câmera digital para a captura de imagens em alta definição, em 24 quadros por segundo, o mesmo frame rate utilizado pelo cinema em suas películas. Gravando no formato HDCAM HD, a CineAlta HDW-F900, com lentes criadas especialmente para ela pela Panavision, inaugurava a era das grandes produções criadas totalmente em formato digital.

Ou, pelo menos, dava-se o pontapé inicial. Antes, diversas outras experiências haviam sido levadas a cabo, mas nunca com o nível de qualidade do episódio 2 de Star Wars, "O Ataque dos Clones". O atrativo, para os cineastas, era realmente imitar o que acontecia no cinema, ou seja, além de poder registrar imagens na cadência de 24qps, também poder fazê-lo sem o entrelaçamento de linhas trazido pelo vídeo desde a época da invenção da televisão.

Esse entrelaçamento, criado por, entre outras causas, limitações na capacidade de transmissão das TVs da época, já não era mais necessário. A primeira câmera Mini-DV, lançada junto com o formato (Sony DCR-VX1000, cujos contornos inspiraram desde o início o desenho que ilustra a página inicial do site FazendoVídeo), trazia um interessante recurso: progressive scan. Com ele, era possível, como opção na captação das imagens, registrá-las sem o referido entrelaçamento de linhas. O entrelaçamento não é de todo ruim - traz fluidez ao movimento das imagens por exemplo, mas, para cinematografia digital não é o melhor caminho. Isso porque surge, dessa época em diante, a idéia de utilizar a câmera de vídeo de maneira mais fácil do que antes para a partir do conteúdo gravado em fita, obter um conteúdo equivalente em película.

Apesar dos avanços na captação de imagens digitais, os cinemas ainda correm atrás na definição de um padrão de projeção digital, não tanto pela parte técnica e sim pelos diversos interesses envolvidos no esquema, dos estúdios de Hollywood aos distribuidores,dos exibidores e da pipoca ao conteúdo a ser exibido em cada sala. Assim, ainda hoje é necessária a geração de cópias em película para exibição nos circuitos.

E o modo progressivo de captação de imagens, junto com o uso do frame rate de 24qps, ao passar a ser oferecido em câmeras de baixo custo (comparadas às utilizadas no meio profissional) passou a oferecer uma gama enorme de possibilidades para diretores à procura de soluções de baixo custo. A chegada do HDV ao público profissional e semi tem muito a ver com isso, o mesmo podendo-se dizer do formato DVCPRO HD. Sony, Panasonic e JVC colocam hoje no mercado câmeras com essas características, atraindo novos realizadores e ajudando a impulsionar um mercado cada vez mais abrangente: o do vídeo (e cinema) digital.