Quem se lembra de, no colégio, alguma vez ter aprendido sobre "cores básicas"? Sim, ainda quando éramos pequenos e a professora anotava em um canto da lousa os alunos mais 'criativos' da turma (em termos de desordem...). Nessa época, aprendíamos que eram 3 as cores básicas: o vermelho, o amarelo e o azul. E mais: que todas as demais cores podiam ser obtidas se misturássemos diferentes proporções dessas cores. Dizia então a professora que se misturássemos o amarelo com o azul, obteríamos o verde. Naturalmente essas coisas ali descobertas nos encantavam como mágica, íamos logo para a caixa de lápis de cor escolher algumas cores para fazer experiências no papel.

Era quando estávamos em meio a essas experiências que às vezes descobríamos que alguma coisa não dava certo, principalmente quando nos diziam que todas as cores somadas resultariam na cor branca. Ora, por mais que gastássemos nossos Faber Castell ali naquela folha, tudo o que conseguíamos era um borrão que mais se aproximava do preto ou marrom do que do branco.

Na verdade isso acontecia porque existe uma grande diferença no modo como as cores marcadas pelo lápis são combinadas em um papel e no modo como as cores projetadas através de refletores em uma parede branca são combinadas. Em outras palavras, a cor apresentada pelos objetos que você a seu redor tem um comportamento diferente da cor formada pela soma das luzes emitidas por refletores com gelatinas coloridas.

Para entender como isto funciona, é preciso entender alguma coisa sobre modelos de cores. Aquelas cores básicas ensinadas na sala de aula fazem parte de um modelo de cores chamado RYB. De onde vem isso? Das iniciais dessas cores em inglês: Red, Yellow e Blue. Durante centenas de anos esse modelo foi utilizado por pintores e outros artistas, através do senso intuitivo das cores, desde a época do Renascimento. É um modelo clássico, onde suas cores foram escolhidas não por critérios técnicos e sim por se destacarem mais facilmente umas das outras: entre todas as cores, são as que tem maior contraste visual:

O desenho mostra que somando-se em iguais proporções o amarelo e o azul, obtemos o verde, que era o que acontecia em nossa experiência. E também a formação do laranja e do magenta (aquela cor que chamávamos 'cor -de-rosa' ). Variando-se as proporções, obtém-se outras tonalidades.

Os artistas preocupam-se com a percepção humana da cor. A cor das folhas de uma árvore não muda ao longo do dia, os pigmentos são sempre os mesmos. Porém, em função da variação da temperatura da luz ao longo do dia, a luz refletida pelas folhas da árvore muda de tonalidade: é uma pela manhã, outra ao meio dia, outra à tarde, outra em um dia nublado, etc... e os artistas tentam transmitir esse "clima" pintando as folhas em diferentes tonalidades, conforme o que se quer transmitir.

Mas o mundo foi evoluindo, surgiu a TV e os computadores e, com eles, um outro modelo de cor, o RGB. Agora você advinhou, claro: Red, Green e Blue. E você já notou que nesse modelo, o amarelo foi substituído pelo verde, em relação ao modelo RYB. Aqui começam a entrar critérios técnicos: o vermelho, o verde e o azul são as cores enxergadas diretamente pelo olho humano. Dentro do olho, existem 3 tipos de células sensíveis à cor: as que vêem o vermelho, as que vêem o verde e as que vêem o azul. Todas as demais cores e tonalidades são enxergadas como combinação em diferentes proporções destas 3 cores. Por isso essas cores recebem o nome de cores primárias:

O desenho mostra que somando-se em iguais proporções o vermelho e o verde, obtém-se o amarelo. E que vermelho com azul dá magenta e azul com verde resulta nesse azul claro, chamado ciano. Para se contrapor ao termo "cor primária", essas cores resultantes chamam-se "cores secundárias". Variando-se as proporções, obtém-se todas as outras cores e tonalidades. A tela do monitor de TV emite estes 3 tipos de cores, as cores RGB, e é nessas cores que está baseado o funcionamento de todos os nossos equipamentos de vídeo-produção.

Em todos estes modelos fala-se sempre em somar cores para obter-se uma outra. Estes modelos são chamados por isso de modelos aditivos de cores. Mas existem modelos que trabalham de maneira inversa, os modelos subtrativos de cores. E agora chegou o momento de você entender a diferença citada no início, entre as cores emitidas por luzes que vemos diretamente (ou refletidas em uma superfície branca) e as cores refletidas por superfícies não brancas.

Quando você olha para a tela da TV, as luzes emitidas atingem diretamente seu olho, sem sofrer alterações. Quando refletores coloridos iluminam uma parede branca, as luzes também são refletidas pela mesma sem sofrer alterações. No entanto, você pode pintar a parede utilizando tintas. Tintas são substâncias que contém pigmentos, e aqui é onde está o segredo de tudo. Os pigmentos existentes nas tintas não refletem igualmente todas as cores: absorvem algumas e refletem outras. Olhe para a figura do modelo RGB: o que acontece se um determinado pigmento absorve as cores vermelha e azul de uma luz branca que o ilumina? Ele vai refletir a que sobrou, ou seja, verde. Pronto! Você tem agora em mãos a tinta verde!

E o mundo não evoluiu somente na mídia televisiva: também na impressa. Assim, surgiram as impressões coloridas e um novo modelo de cores, o CMY:

Este modelo, utilizado na imprensa, utiliza como cores básicas o ciano, o magenta e o amarelo. E este é um exemplo de modelo subtrativo de cores. Veja porque: em relação às cores primárias RGB, o pigmento de tinta que absorve somente o vermelho, reflete o verde e o azul. Quanto uma mistura de luzes verdes e azuis atingem seu olho, qual cor você verá? De novo, pelo RGB, você encontra a cor secundária ciano. Então, para ver a cor ciano você tem que pintar a superfície branca com uma tinta que contenha pigmentos que absorvam, que subtraiam do RGB a cor vermelha. Percebeu o porquê do nome? O mesmo raciocínio vale para se obter o amarelo e o magenta. E somando-se em iguais proporções estas cores você obtém as cores do RGB - que neste modelo são cores secundárias.

E agora também chegou o momento de voltarmos para aquela questão maldita: por quê, se a soma de todas as cores é a cor branca (pelo menos foi assim que nos ensinaram), a soma de todos os Faber Castell nunca dava branco e sim sempre aquele borrão fashion? Para entender isto, vamos voltar ao modelo CMY. Como você deve ter reparado, a cor existente no centro, sobreposição dos 3 círculos, é a cor preta. Assim, para obter-se esta cor, bastaria combinar em igual proporção as tintas ciano, magenta e amarela. Porém a absorção e reflexão das cores por parte dos pigmentos nunca é perfeita. Seu comportamento não segue um modelo matemático perfeito e como resultado a cor obtida é mais parecida com um cinza escuro do que com preto. Para contornar este problema, as impressoras (gráficas e de computador) utilizam tinta preta nas regiões onde a cor preta deve ser utilizada, ao invés de utilizar as três cores juntas nesses locais (descobriu porque sua impressora não imprime corretamente uma foto colorida quando acaba o cartucho preto?). Isto resultou em um sistema conhecido como CMYK, onde a letra 'K' vem da letra final de black.

Da mesma forma, procure a intersecção dos discos nos dois primeiros modelos mostrados acima. Ela representa a cor branca, não é? Mas também pelo mesmo problema de imprecisão dos pigmentos nas tintas é que não conseguimos obter esta cor ao somar as demais. No entanto, se você se livrar dos pigmentos o mundo fica perfeito: ilumine uma superfície branca com três fachos de luz colorida, nas cores vermelho, verde e azul e você verá uma luz branca. Não viu? Bom, mas as intensidades das luzes que você usou eram exatamente iguais? E a superfície era exatamente branca? E o tom do vermelho era mais claro ou mais escuro do que o do azul? Você viu uma cor quase branca, não é? É.... o mundo não é perfeito......