Com as descobertas da ciência que levaram ao uso disseminado da corrente elétrica, logo surgiram os diversos aparelhos elétricos. Básicos a princípio como uma lâmpada, numerosos outros usos surgiam dia a dia, como os mecânicos, simples, derivados do motor elétrico e os que eram capazes de transmitir mensagens a longa distância, mais elaborados, com o uso de conceitos do eletromagnetismo. Todos, equipamentos ditos elétricos.

A eletrônica viria então dar um grande salto no modo de vida das pessoas, permitindo a comunicação sem fios e, mais tarde, a visão de imagens, também transmitidas pelo ar. Até esse momento, um pouco antes da década de 50, os equipamentos eletrônicos eram baseados em dispositivos que lembravam uma lâmpada em tamanho miniatura, sem no entanto praticamente emitir luz - as válvulas. E também chaves e dispositivos móveis, eletromecânicos.

Após os anos 50 e mais intensamente na década de 60, a eletrônica passou a usar dispositivos bem menores, sem partes móveis nem tubos de vidro com vácuo dentro. Pequenas pecinhas com marcas de tinta colorida para diferenciar suas funções e características eram soldadas em placas formando interessantes e intrincados desenhos geométricos. Essas pecinhas, o transistor, o resistor, o capacitor e muitos outros, formaram a base da eletrônica de estado sólido, termo usado para diferenciar circuitos montados com elas dos circuitos anteriores, que usavam peças muitas vezes móveis ou com espaços vazios em seu interior (como as válvulas). Aqui o que se via era realmente algo sólido, de onde pequenos fios entravam e saiam e mais nada.

Chegava o rádio transistorizado, admirando as pessoas por seu minúsculo tamanho. A miniaturização avançava com os anos, reduzindo o tamanho daquelas placas cada vez mais: os circuitos passavam a ser "impressos". E a associação da eletrônica com a engenharia matemática dos cálculos não demorou, fazendo surgir os primeiros computadores (ou "cérebros eletrônicos") . Com esses circuitos produzidos em larga escala foi possível construir então máquinas cada vez menores, mais baratas e cada vez mais potentes, realizando cálculos em uma velocidade imensa.

Mas como armazenar, em algum lugar, o resultado produzido por essas máquinas? A computação tratava de traduzir as informações para um código numérico representando de alguma forma as informações analógicas, fossem elas letras, sons ou, mais tarde, também imagens. E esse código numérico era a seguir matematicamente convertido para o modo binário de numeração, onde tudo pode ser somado, subtraído, dividido e multiplicado usando somente 2 algarismos, o "0" e o "1".

Isso tem tudo a ver com a eletrônica, pois aquelas pequenas pecinhas "entendiam" a linguagem desses números, bastando convencionar-se que "0" seria o significado de "sem corrente" e "1" de "com corrente". Ou então, em outras palavras, de "desligado" e "ligado".

Tudo passou então a ser questão de representar esses dois estados para ter-se o conteúdo digital armazenado. E o que primeiro se pensou foi em perfurar uma fita de papel ou um cartão: os furos, pequenos e em formato redondo ou retangular, permitiam o contato físico ou não entre eletrodos que faziam a leitura, ou entre uma luz e células fotoelétricas dispostas do lado oposto, desempenhando o mesmo papel. Assim era possível representar os zeros e uns.

Mas à medida em que essas máquinas ficavam mais potentes, produziam maiores volumes de informações e o armazenamento em papel tornava-se problemático. Surgiram formas mais eficientes e melhores para realizar a tarefa, como as fitas magnéticas. Mais tarde, os discos magnéticos viriam possibilitar o acesso aleatório às informações, não somente sequencial como o proporcionado pelas fitas.

Nessa época já existiam câmeras de vídeo, que gravavam as imagens, no modo analógico, nas fitas magnéticas VHS, Betacam e outras. Foi então que o computador, mais miniaturizado do que nunca, "invadiu" as câmeras de vídeo. Dentro delas, as imagens continuaram a ser geradas no modo analógico - fato que persiste até hoje com a totalidade das câmeras, uma vez que não existe captura digital. É fato analógico a transformação da luminosidade projetada pelas lentes sobre o sensor em sinais elétricos de intensidade variável, descoberto por Einstein e sua célula fotoelétrica. Mas é fato do mundo computacional "traduzir" esses sinais elétricos em zeros e uns.

O público viu então em 1995 a chegada no segmento de equipamentos a seu alcance o formato Mini-DV, que fazia exatamente isso, gravando as imagens, após um processo de digitalização ocorrido dentro das câmeras, em diminutas fitas quando comparadas ao volumoso tamanho das VHSs de então.

Com o passar do tempo novas formas de armazenamento de conteúdo de áudio e vídeo foram surgindo, como os discos ópticos por exemplo. Mas podemos dizer que nesse momento a memória dos computadores já podia ser "sólida", ao permitir o uso daquelas pecinhas minúsculas para armazenar informações especiais.

Eram esses circuitos chamados "memórias sólidas voláteis". O termo memória sólida era empregado da mesma forma que na eletrônica de estado sólido. E o termo volátil pode ter um paralelo com o que vulgarmente conhecemos: ao passar algum tipo de solvente em uma superfície, como o querosene, ele logo evapora sem deixar vestígio. Em computação "memórias voláteis" são memórias temporárias: ao ser desligado o computador, o conteúdo armazenado nelas é perdido. Tinham no entanto a sua função, ao guardar dados justamente temporários, como os resultados parciais que guardamos em um papel ao lado enquanto fazemos uma conta. Hoje em dia uma memória muito conhecida desse tipo, é a memória RAM (Random Access Memory), fundamental, em boa quantidade, para o sucesso do trabalho de edição nos formatos atuais de vídeo, cada vez mais comprimidos.

Nos dias atuais, sem muito exagero pode-se afirmar que quase todo mundo que tem contato com computadores possui pelo menos um pendrive ou pelo menos alguma vez já manipulou algum. A existência desses simpáticos dispositivos, "disfarçados" das mais criativas formas, deve ser creditada a um pesquisador japonês da Toshiba: o dr. Fujio Masuoka. Nos anos 80 ele perseguia a idéia de criar uma memória de estado sólido que não fosse apagada ao ser desligada a energia elétrica. Suas pesquisas resultaram então na criação da memória flash.

Curiosamente o nome "flash" foi sugerido por um colega de trabalho seu: na época, apagar dados armazenados em mídias magnéticas, como fitas por exemplo, era um processo demorado. Pois apagar o que estava gravado na memória inventada pelo dr. Fujio era tão rápido como uma piscada de olhos, tão rápido como um flash de máquina fotográfica...

A primeira aplicação da memória flash foi a substituição dos antigos circuitos de memória ROM (Read Only Memory) usados pelos computadores em situações como a de serem religados (boot), executando trechos de programas ali armazenados - de forma permanente, característica das ROMs. A nova tecnologia recebeu o nome de EEPROM, significando que seu conteúdo podia ser apagado e reescrito, daí os termos "Electrically Erasable Programmable" e feito isso, ser somente lido ("Read-Only Memory", compondo a sigla EEPROM) até nova regravação total. Podemos dizer então que o "pendrive" da época teria que se apagado por completo para sofrer qualquer alteração em seu conteúdo, algo inimaginável hoje....

Mais tarde essa limitação foi superada e atualmente as memórias flash avançaram tanto em capacidade e tecnologia que hoje em dia são comuns laptops que as utilizam no lugar do disco rígido (HD), com o nome SSD (Solid State Drive), além de uma grande maioria de telefones celulares com diversas funções.

Mas os pendrives são somente uma parte da história... na década de 90 a memória flash criou "asas" e saiu do interior dos computadores. Fora deles, sob o formato de um cartão parecido com um cartão crédito, nascia o cartão PCMCIA. Esse cartão, desenvolvido pela Personal Computer Memory Card International Association - daí sua sigla, mais tarde passou a ser conhecido também simplesmente como PC Card.

Esse formato físico de cartão abrigou funções diferentes das de memória, quando os computadores do tipo laptop passaram a serem vendidos sempre com uma porta para seu encaixe. Um modem por exemplo, poderia dar acesso a suas funções ao computador, ou uma placa de captura de imagens de vídeo, através desse tipo de entrada, padrão a partir de então em todos equipamentos.

O cartão "encolheu" com o tempo, surgindo sob diferentes formas e padrões: CompactFlash, SmartMedia, MemoryStick, Secure Digital, Secure Digital High Capacity e vários outros, tendo sido empregados nas emergentes máquinas fotográficas digitais, jogos eletrônicos e celulares.

De capacidade acanhada a princípio, permitiram que as máquinas fotográficas fizessem o que as câmeras de vídeo faziam já a algum tempo: trocar de papel. As câmeras de vídeo podiam fazer fotos (mesmo nas fitas Mini-DV) e agora as câmera fotográficas podiam fazer vídeos, ainda que com pouca qualidade e em formatos de pouca qualidade, como o MPEG1. Mas era já um começo...

O que viria a seguir não poderia ser imaginado a alguns anos atrás: com o aumento da capacidade dos cartões, as câmeras fotográficas digitais passaram cada vez mais a poder gravar cenas em vídeo, com mais qualidade e com maior tempo de duração. O atrativo das lentes costumeiras nessas linhas de equipamentos e os sensores em tamanho maior do que os tradicionais usados em vídeo fez delas a coqueluche de um grupo de cineastas. Hoje é possível encontrar diversos trabalhos feitos com esse tipo de equipamento.

Pelo lado do vídeo surgiram sensores bem maiores em câmeras, que passaram a rivalizar com suas pares cinematográficas. Atualmente, à exceção da latitude de exposição das películas, vídeo e película podem considerar-se lado a lado. Discussões de processos envolvidos à parte, o maior volume gerado de informações encontrou a maior capacidade também das memórias sólidas.

E essa capacidade não pára de crescer.. na linha do tempo, olhando para trás veremos memórias com 256Mb enquanto a realidade atual apresenta já GBs "às dezenas". A gravação de vídeo em cartões flash foi puxada pela Panasonic com seu cartão P2, depois a Sony com o SxS (aproveitando-se do novo padrão PC CardExpress nos micros) e mais tarde com uma variedade de equipamentos gravando em cartões do tipo SDHC comuns, quando o formato AVCHD tornou-se popular. Sua compressão, empregando tecnologia derivada do sucessor do MPEG2, o padrão MPEG4, consegue armazenar grandes quantidades de horas de gravação sem perda de qualidade.

O que é possível afirmar hoje é que a memória sólida é, inegavelmente, cada vez mais a realidade atual e o futuro do armazenamento de dados em câmeras de imagens, sejam de vídeo ou fotográficas. Que, aliás, também cada vez mais confundem-se entre suas funções, embora ainda não se visualize um equipamento único, por alguns motivos, para substituí-los. Mas isso já é uma outra história - que fica para outro cartão de memória...