Folheando revistas, muitas vezes você deve ter visto anúncios com a informação de que determinada câmera de vídeo possuía 700 ou 800 linhas de resolução. Talvez você tivesse lembrado na ocasião de já ter ouvido falar sobre as 240 linhas de resolução do formato analógico VHS, ou então que o formato analógico SVHS era superior ao VHS por ter cerca de 400 linhas de resolução. Por outro lado, certamente você também já ouviu dizer que o sistema NTSC trabalha com 525 linhas... e que pelo menos um dos padrões da TV de alta definição, a HDTV, trabalha com 1.125 linhas... mas afinal, o que significa tudo isso? Como interpretar essas informações sobre linhas e tirar conclusões práticas sobre elas? Se este assunto parece confuso para você, ao término deste artigo você conseguirá 'desembaraçar' essas linhas, entendendo os principais modos de se medir a resolução de um determinado formato de vídeo.

Em primeiro lugar é necessário fazer uma diferenciação: a resolução em linhas de uma determinada imagem de vídeo é medida em linhas horizontais e em linhas verticais. Vamos então inicialmente falar sobre o primeiro tipo, o da resolução de linhas verticais. Imagine uma casa e dentro dela você, em uma sala, observando a imagem da rua através de uma persiana, com suas lâminas horizontais quase que totalmente abertas. Você está a um ou dois metros de distância da janela e o que você vê? A imagem da rua, claro, mas... se você prestar atenção, vai perceber que a imagem está recortada pelas lâminas da persiana. Na verdade, é como se você tirasse uma foto da rua e com uma caneta preta de ponta grossa traçasse várias retas paralelas, uma abaixo da outra, deixando um intervalo entre elas. Assim é, mais ou menos, a grosso modo, como a câmera de vídeo vê a realidade. Os pixels no CCD são dispostos em fileiras horizontais, formando linhas uma abaixo da outra. Entre a fileira de pixels de cima e a fileira de baixo existe uma pequena separação: são as linhas pretas que você desenhou na foto.

No sistema de vídeo NTSC, criado na década de 40, a quantidade de linhas verticais é sempre 525. Isto é um padrão, que pertence ao sistema e não depende da câmera ou qualquer outro dispositivo utilizado. Diz-se assim que a resolução vertical deste sistema é de 525 linhas. Outros sistemas possuem números diferentes: enquanto que o PAL-M (utilizado só no Brasil) também possui 525 linhas de resolução vertical, o SECAM e PAL-G por exemplo possuem 625 linhas de resolução vertical. Por ser um padrão fixo dentro de um mesmo sistema/país, não varia portanto com a qualidade do equipamento utilizado.

Você não verá no entanto todas essas linhas ao observar a imagem no monitor ou televisor. Em parte porque nem todas as linhas são exibidas na tela do monitor / aparelho de TV: no sistema NTSC por exemplo, 42 destas linhas são reservadas para conter informações que orientam o desenho das imagens na tela, como por exemplo a que diz que o feixe de elétrons do monitor deve retornar à parte superior esquerda da mesma para iniciar o desenho de uma nova imagem. Estas linhas especiais, não exibidas normalmente, compõem um bloco negro (faixa horizontal) que pode ser visto rolando verticalmente pela tela quando o ajuste vertical do monitor não está correto:

Assim, restam 483 linhas, que é o número máximo que um aparelho de TV pode exibir no sistema NTSC. Por outro lado, se você estiver olhando um aparelho de TV e não um monitor verá menos linhas ainda: algumas não aparecem devido à máscara que circunda a tela, utilizada no gabinete do aparelho (coisa que não acontece nos monitores utilizados em videoprodução).

O segundo tipo sim, diferencia a qualidade do formato de vídeo a ser considerado e os equipamentos que trabalham com ele: a resolução horizontal. Chegou a hora de você recolher totalmente a persiana da sala e abrir a janela. De lá, você vai imaginar que consegue ver a grade que faz a separação da rua com o jardim da sua casa. Imagine uma dessas grades com várias barras verticais, como se fosse uma cerca com estacas fincadas no chão. Um pouquinho mais de imaginação agora: você está com sua câmera de vídeo apontada para a grade. Quanto mais estacas verticais próximas umas das outras a grade possuir, mais estacas aparecerão na tela do monitor de vídeo / aparelho de TV. Imagine essa grade vista a uma certa distância: aumentando a quantidade de estacas, ficará cada vez mais difícil na tela distinguí-las umas das outras - isto depende da capacidade maior ou menor do equipamento mostrar individualmente finos traços verticais na imagem. A resolução horizontal mede o número máximo de 'estacas' , ou seja, de traços verticais que é possível distinguir em uma dada imagem. Em outras palavras, quanto maior a capacidade de um dado sistema de imagem de representar linhas verticais distintas, maior será sua resolução horizontal (e portanto melhor a qualidade da imagem desse sistema).

A resolução horizontal depende do formato de vídeo utilizado. Diferentes formatos de vídeo oferecem diferentes resoluções máximas horizontais: 240 linhas no formato analógico VHS, 400 linhas no formato analógico SVHS, 530 linhas no formato digital Mini-DV, etc...). Mas por que o termo "resolução máxima"? Porque é a maior resolução suportada pelo formato, o que não quer dizer que todos os equipamentos fabricados para trabalhar com ele a atinjam: aqui, quanto melhor a qualidade do equipamento, mais ele se aproximará do valor máximo de resolução horizontal. Equipamentos profissionais normalmente superam esse valor máximo de resolução. A resolução horizontal das imagens transmitidas por estações de TV é de cerca de 330 linhas. Embora uma fita VHS comum seja capaz de exibir somente 240 linhas e a programação da TV somente 330, imagens capturadas com câmeras com maior número de linhas (700 por exemplo) apresentam resultado final em 240 / 330 linhas muito melhor do que as capturadas com câmeras com menor resolução. Isso porque durante os inúmeros processos de manipulação (edições, acréscimo de efeitos, transmissões, etc...) que a imagem (mesmo digital) sofre desde a captura até chegar ao público, sempre ocorrem perdas. A idéia é iniciar com um original melhor para ter um resultado final também melhor.

Como a resolução horizontal varia de equipamento para equipamento, existem diversos métodos para fazer a avaliação (contagem) do número de linhas horizontais mostradas. Um dos mais antigos, ainda da época da TV em preto e branco, emprega uma figura especial contendo diversas linhas horizontais e verticais que se afastam a partir de um ponto central, denominada chart de resolução EIA1956, padronizada pela EIA (Electronic Industries Association - EUA), da qual um trecho é mostrado abaixo:

Na figura, as linhas divergentes contém uma numeração ao lado das mesmas indicando quantas linhas existem naquela posição. A câmera é apontada para a figura, tendo a seguir seus controles (foco, abertura, etc...) regulados da melhor maneira possível. Em seguida a imagem gerada pela câmera é observada em um monitor de alta resolução - sua resolução deve ser maior do que a da câmera, para permitir a medição. Linhas verticais no desenho permitem avaliar a resolução horizontal (lembre-se da cerca) e linhas horizontais permitem avaliar a resolução vertical (lembre-se da persiana). Como as linhas vão pouco a pouco aproximando-se no desenho, a partir de determinado ponto não é mais possível distinguí-las individualmente. Anota-se então a resolução indicada no desenho: esta é a resolução (horizontal / vertical) da câmera / sistema.

A avaliação obtida com o chart no entanto é aproximada, pela subjetividade em si (diferentes observadores podem ter diferentes avaliações) e pela dificuldade em determinar exatamente o ponto a partir do qual as linhas não podem ser mais distinguidas. Métodos mais precisos utilizam outros meios, como um aparelho denominado osciloscópio, que obtém a leitura da resolução horizontal a partir da medida da frequência do sinal (largura de banda).

A resolução medida tanto pelo método do chart quanto via osciloscópio refere-se à luminância, ou seja, a parte do brilho da imagem (excluindo a cor). A resolução relativa à parte de cor é sempre bem menor do que a do brilho, uma vez que o olho humano é menos sensível a este tipo de informação do que ao outro. Nas câmeras do segmento consumidor por exemplo este tipo de resolução gira em torno da metade do valor da resolução de luminância.

E agora que você já sabe como funciona a resolução vertical e horizontal de um sinal de vídeo, uma curiosidade: estudos mostram que na prática a resolução real observada no monitor / aparelho de TV é menor do que a obtida nas medições ( resolução horizontal / resolução vertical ) porque na maioria das vezes a imagem observada está em movimento. Assim, para a resolução vertical, supondo a imagem de uma escada sendo vista através das lâminas da persiana, podemos imaginar que os degraus desta escada coincidam exatamente com a posição das frestas da persiana (a parte entre as lâminas); deste modo, o número máximo de degraus observáveis coincide com o número de frestas da persiana, que é igual ao número de linhas na tela.

Porém, se o observador mover sua cabeça ao longo de um eixo vertical para cima ou para baixo, passará em uma dada posição a não enxergar mais os degraus, encobertos que estarão pelas lâminas da persiana. Na imagem da TV ocorre um processo parecido, mas quem se move não é a cabeça do expectador e sim a própria imagem. Matemáticos concluiram, após cálculos estatísticos, que na persiana hipotética, em média 70% dos degraus da escada observada sempre seriam vistos, independentemente da posição do observador. Transpondo este cálculo para a TV, as 483 linhas do padrão NTSC poderiam mostrar na realidade uma resolução real de 483 x 0,7 = 338 linhas (70% de 483).

Mas, deixando os matemáticos para lá, o importante não é o valor exato da resolução obtida ou até mesmo o valor da resolução percebida pelo expectador e sim entender os conceitos de resolução vertical e horizontal para poder fazer comparações entre formatos e equipamentos de vídeo.