Quando você aponta sua câmera de vídeo para uma bela paisagem e, encantado, aperta o botão REC, uma série de processos tem início no interior do equipamento, culminando com criação do registro daquela paisagem na fita. O que fica gravado na fita, de maneira analógica ou digital, tenta reproduzir da maneira mais fiel possível o que você observou no viewfinder ou no LCD da câmera: é o sinal de vídeo.

Tudo começa com um processo eletrônico que "lê" o que as lentes da câmera estão projetando na superfície do CCD, abreviatura para Charge Coupled Device, o dispositivo que "enxerga" o que a câmera vê e que poderíamos comparar com a retina do olho humano. Logo atrás da retina, células especiais percebem a presença das cores e da luminosidade, convertem estas informações em impulsos elétricos e as enviam, através dos nervos (os nossos "fios") até o cérebro. Cabe a ele interpretar estes sinais e entender aquela imagem, de ponta cabeça (como sabemos da óptica, as lentes projetam imagens invertidas tanto na câmera como no olho) como sendo a representação da realidade que nos cerca.

Na câmera, o CCD é composto por um mosaico de células fotoelétricas sensíveis à luz. Estas células, microscópicas, são dispostas através de linhas e colunas, como em uma tabela. A imagem projetada sobre essa grade de células fica pois fragmentada: cada fragmento representando um determinado trecho da imagem recebe o nome de pixel. Resta pois ler estes pixels todos e armazenar estas informações de alguma forma que elas possam mais tarde serem novamente transformadas em imagem em nossos aparelhos de TV.

Nossos olhos percebem de maneira diferenciada a luminosidade (alternância claro-escuro) e as cores. O mesmo ocorre durante a leitura do CCD. As células fotoelétricas ali dispostas somente percebem as variações de claro-escuro, não as cores. Para obtê-las, algumas técnicas são utilizadas, como recobri-las alternadamente com filtros coloridos nas cores RGB (Red, Green, Blue) ou então utilizar 3 CCDs, cada um especificamente para uma das cores RGB. Seja de uma forma ou outra, as informações obtidas de cada pixel são seu grau de luminosidade e sua tonalidade de cor.

Os pixels no CCD vão sendo lidos linha a linha (lembra-se da tabela?), da esquerda para a direita e de cima para baixo. O resultado dessa leitura é uma sequência de valores de luminosidade e uma sequência de valores de tonalidades de cor. A primeira seqüência constitui a parte do sinal de vídeo denominada luminância - não tem cor, forma uma imagem em P&B. A segunda seqüência constitui a parte do sinal de vídeo correspondente à cor, formada por 3 sinais independentes, um vermelho, um verde e outro azul (RGB).

Temos então a câmera apontada para aquela paisagem maravilhosa e 4 sinais sendo gerados continuamente, 1 de luminosidade e 3 sinais de cor. Resta saber como armazená-los na fita de vídeo que está lá dentro da câmera, ou então, de que forma enviá-los para fora do equipamento, para que sejam gravados em outros dispositivos ou transmitidos até a TV das nossas casas.

Câmeras digitais (Digital Betacam e Mini-DV por exemplo), digitalizam o sinal RGB analógico (convertendo informações de variação de voltagem em zeros e uns, os chamados bits). A seguir o sinal digitalizado pode passar ainda por uma etapa adicional de compressão (para diminuir seu volume). Quanto maior a taxa desta  compressão, menor a qualidade do resultado final. Assim, enquanto alguns modelos de câmeras digitais utilizadas em cinema não fazem compressão alguma (o sinal é gravado diretamente em discos rígidos de computadores), câmeras de formatos profissionais empregam compressão em determinado grau, como no Digital Betacam e câmeras de formatos semi-profissionais empregam taxas ainda maiores, como o Mini-DV.

O sinal digital comprimido é então gravado na fita ou então transportado para fora da câmera através de conexões digitais, como o Firewire e a USB 2.0. Existem dois tipos de plugs utilizados nos cabos Firewire, 4 e 6 pinos. A versão 4 pinos é utilizada principalmente em câmeras e a 6 pinos em microcomputadores, onde os 2 pinos adicionais não transmitem dados e sim energia elétrica para o acionamento de periféricos especiais.

Câmeras analógicas por outro lado gravam o sinal obtido diretamente em suas fitas, porém, utilizando alguns artifícios para reduzir a quantidade de informação. A primeira opção é, a partir dos 3 sinais de cores individuais, combiná-los com o sinal de luminosidade e com isso gerar somente 3 sinais ao invés de 4 (os três de cor e um de luminosidade). Esta opção é interessante porque preserva as características de cada informação de cor e ao mesmo tempo reduz a quantidade de sinais gerados, de 4 para 1. Convencionou-se chamar o componente de luminosidade de componente Y; o circuito eletrônico da câmera subtrai o sinal Y do sinal de cor vermelha (Red), obtendo-se um sinal R-Y. A este novo sinal, criado como a combinação subtrativa R-Y deu-se o nome de cromitância-1, geralmente representada pela letra U. Assim, em nossa matemática simples vemos que U=R-Y.

Subtraindo-se agora o sinal Y do sinal de cor azul (Blue), obteremos um outro sinal, chamado cromitância-2, normalmente representado pela letra V. Assim, podemos dizer que V=B-Y. Desta forma, as imagens  captadas pela câmera podem ser representadas por um sinal de vídeo com estes 3 componentes, YUV. Não por acaso, este tipo de sinal recebe o nome de vídeo componentes. Você provavelmente deve estar intrigado com um detalhe: e o sinal verde? Sua presença no sinal componentes não é necessária: assim como ocorre em uma equação matemática, onde tendo-se os valores de algumas incógnitas descobre-se a que está faltando (o "x" da questão), aqui também ocorre o mesmo. O circuito eletrônico, tendo conhecimento dos valores de luminosidade total de um determinado pixel (sinal Y) e conhecendo o valor individual de duas das 3 cores (vermelho, através do U, e azul, através do V), consegue determinar o que falta para atingir a luminosidade total, que corresponde à cor verde (Green).

O sinal vídeo componentes é gravado desta forma, em câmeras profissionais analógicas como nos equipamentos Betacam-SP por exemplo. Observando-se estas câmeras externamente, pode-se perceber no local onde o cabo de vídeo componente é conectado, espaço para conexão do plug com 3 pinos, um para cada sinal YUV.

Diminuindo um pouco mais a qualidade da imagem gerada, ainda no mundo analógico, surge o sinal Y/C, empregado pelos conhecidos formatos S-VHS e Hi-8. Neste tipo de sinal, os 3 sinais de cores RGB são combinados em um só - na fase de reprodução terão que ser novamente separados - formando o sinal denominado croma (C). Assim, o sinal Y/C possui somente dois componentes, um para cor e outro para luminosidade. O fato dos sinais analógicos de cor serem combinados dificulta em determinado grau sua completa e perfeita separação posterior, o que faz com que a qualidade de cor destes formatos de vídeo seja inferior aos formatos profissionais. O conector utilizado nos cabos que transmitem este tipo de sinal é o conector Y/C, com 4 pinos, dois para o sinal Y (fase e terra) e dois para o sinal C (idem).

Com qualidade de imagem ainda menor, tem-se o sinal composto. Como o nome sugere, este sinal é gerado na câmera unindo-se os 3 sinais de cor com o sinal de luminosidade. É empregado nos formatos analógicos VHS e 8mm por exemplo. O processo de combinação analógico dos 4 sinais, assim como no sinal Y/C também causa estragos: a separação posterior para visualização nunca é perfeita, fazendo com que a qualidade de definição de cor destes formatos seja inferior. O conector utilizado nos cabos que transmitem este tipo de sinal é o conector RCA, do mesmo tipo utilizado em conexões de aparelhos de som.

Finalmente, é possível reduzir ainda mais a qualidade do sinal de vídeo: combiná-lo com o som. Isso é o que tem que ser feito para que o sinal possa ser transmitido pelo ar e recebido pelas antenas nas casas e prédios, no tipo de sinal chamado sinal RF (Radio Frequency). O sinal RF pode ser transmitido, após ser recebido pela antena, através de um cabo paralelo (o conhecido cabo paralelo de 300 ohms) ou de um cabo coaxial (75 ohms), o mesmo utilizado pelas TVs a cabo.

Existem portanto diversas maneiras de se registrar e transmitir as imagens captadas pela câmera, cada qual correspondendo a um nível diferente de qualidade. Para os formatos analógicos, o procedimento normal é efetuar a captura com a melhor qualidade possível, para que no decorrer da cadeia dos diversos processos envolvidos até chegar-se à sala do espectador a qualidade permaneça sempre a melhor, uma vez que a cada cópia ou passagem entre um equipamento e outro haverá degradação. Já os formatos digitais não sofrem desse problema: suas imagens podem ser copiadas e transferidas à vontade, sem perda alguma de qualidade.