Existe toda uma história sobre este tema, desde que o cinema, muito antes do vídeo, surgiu, nas duas últimas décadas do século 19. Haviam à época as câmeras de fotografia e haviam os tripés para suportá-las. Nada mais natural do que fixar a câmera de cinema sobre o mesmo tripé utilizado para montar as câmeras de fotografia. O que já era uma grande coisa, uma vez que o cinema por si só era a grande novidade do momento, ao dar vida através de movimento para aquelas imagens fotográficas estáticas.

Assim, os primeiros filmes eram agrupamentos de cenas onde o conjunto câmera + tripé era deslocado para uma determinada posição e lá permanecia durante o registro completo de cada cena. Ninguém havia pensado até então em tornar a câmera independente, em termos de movimentação, de seu suporte fixo, o tripé. Os controles ali existentes destinavam-se tão somente a fixar firmemente o conjunto, e só. O que se sucedeu então foi a idéia de colocar todo esse conjunto em algo que se movimentasse: já haviam os trens e um assistente de Lumiére colocou câmera + tripé na parte traseira de um trem que deixava a plataforma de uma estação, criando assim a primeira cena registrada com a câmera em movimento. Hoje podemos classificar essa cena como um dolly out, onde a câmera afasta-se de determinado assunto.

O resultado agradou tanto que logo apareceram vários filmes utilizando este tipo de cena, tendo algumas vezes a câmera saído da parte traseira dos trens para ser fixada, sempre imóvel, na parte frontal do trem, na frente das locomotivas a vapor. A idéia de registrar em filme uma extensão bem maior do mundo visível do que o que cabia nas primeiras cenas estáticas foi despertada com essas cenas contínuas, captadas enquanto o trem se movia. Por que então não movimentar a câmera de um lado para outro ao invés de deslocá-la através da cena? O clique da idéia surgiu com um sujeito chamado Robert W. Paul que, em 1897, criou um mecanismo com uma alavanca e algumas engrenagens para mover a câmera colocada sobre um tripé, de um lado para outro. Enquanto com essa engenhoca ele conseguia registrar toda a movimentação das pessoas em procissão na comemoração do aniversário da rainha Vitória, ao mesmo tempo acabava de inventar a panorâmica, ou pan, como é conhecido este movimento nos dias de hoje.

Dali para frente o mecanismo de movimentação entre câmera e tripé não parou mais de evoluir, até chegar às atuais cabeças remotas que podem realizar movimentos dos mais sofisticados, controlados por processadores, com absoluta perfeição. Vamos a seguir falar um pouco sobre cada um dos principais movimentos de câmera.

pan: o horizonte inteiro dentro da pequena janela do filme

Também conhecido como panorâmica ou panning, é o movimento efetuado com a câmera horizontalmente, geralmente em velocidade lenta, de um lado para outro Para efetuar este movimento a câmera pode estar segura pelas mãos ou fixada sobre um monopé ou tripé. O tripé permite que a movimentação vertical seja impedida, através do travamento de uma alavanca específica: resta a movimentação de um lado para outro, horizontal, conhecido como pan.

As pernas dos tripés foram melhoradas para facilitar este tipo de movimento: as dos tripés fotográficos, finas e leves, já não serviam mais. Isso porque deslocar a câmera de um lado para outro com o tempo logo passou a ter o requisito da suavidade. O cinema, principalmente em seus primórdios, sofria já com o efeito do "batimento" na imagem, ou seja, a "trepidação" visual que surge nesse tipo de movimento. Esse efeito, que pode ser visto até hoje no cinema em movimentos de pan, deve-se à baixa cadência de exibição das imagens. Com 24 quadros diferentes por segundo sendo exibidos, qualquer movimento lateral mais rápido na imagem, seja de alguma pessoa ou objeto na cena, seja da própria câmera, aparece ligeiramente borrado e com essa trepidação.

Isso pode ser minimizado, no caso da movimentação da câmera, ao movê-la lentamente de um lado para outro. Para obter-se esse propósito os mecanismos dos tripés foram modificados, trocando-se a antiga manivela de Robert Paul por um dispositivo que "segurava" até certo grau esse giro horizontal da câmera. Era preciso colocar determinado nível de força em uma alavanca (que passou a chamar-se manche) que movia a câmera no pan. Essa força, que opunha resistência ao movimento, podia se ajustada para mais ou para menos. Com esse dispositivo, passou a ser possível a realização de movimentos com grande suavidade. Essa característica inexiste nos tripés fotográficos, onde até está presente uma alavanca parecida, mas que só serve para reposicionar a cabeça do tripé entre uma foto e outra.

E foi justamente, entre outros motivos, por causa dessa característica de movimentação que as pernas dos tripés de cinema e mais tarde, do vídeo, tiveram que ser modificadas, tornando-se mais robustas. Hoje em dia é comum encontrar pernas de tripés compostas por diversos tubos em paralelo: sua função é justamente impedir a torção do conjunto tripé quando a câmera é forçada para um lado ou para outro no movimento de pan.

tilt: olhe para cima e para baixo

Movimento efetuado com a câmera verticalmente, geralmente em velocidade lenta, de cima para baixo ou vice-versa. Para efetuar este movimento a câmera, assim como no movimento de pan, pode estar segura pelas mãos ou fixada sobre um tripé. Neste último caso, trava-se no mesmo através de uma alavanca, a movimentação horizontal de sua cabeça, de maneira inversa ao que é feito no movimento de pan, onde a movimentação vertical é que é travada. Com isto, o único movimento efetuado pela câmera é o vertical, conhecido como tilt.

O efeito do batimento na imagem também aparece aqui, daí, como no pan, a mesma necessidade de fluidez na movimentação, para minimizá-lo.

Assim, este movimento passou a poder ser controlado da mesma forma, através da resistência controlada da cabeça do tripé. Os tripés atualmente permitem uma flexibilidade muito grande de movimentação de pan / tilt, sendo alguns especializados na realização desses movimentos com grande angulação. O manche (ou alavanca de pan / tilt) ganhou novas funções, como a possibilidade de travar ou destravar a movimentação da cabeça ao ter sua extremidade ajustada com um giro, além de poder ser instalada na parte frontal ou traseira do conjunto e também do lado esquerdo ou do lado direito, rapidamente, bastando o ajuste de uma simples trava.

Dos trilhos do trem para o dolly

O próximo salto foi construir a própria "ferrovia particular" (ou pelo menos um pequeno trecho dela) para deslocar-se a câmera, que assim deixava a parte traseira dos trens e ganhava em flexibilidade. Surgia assim o dolly ou truck, nome dado a um conjunto em que o tripé era fixado em uma plataforma com rodas, mimetizando o vagão do trem. Esta plataforma podia correr livremente ou ser guiada sobre trilhos, sendo que esta última opção logo tornou-se mais comum, pela facilidade de reproduzir o mesmo movimento diversas vezes e pelo maior controle e suavidade propiciado ao mesmo.

Com o tempo o dolly sofreu inúmeras transformações e adaptações, existindo hoje desde versões mais robustas que incluem um assento para o operador da câmera até os bem simples, praticamente um retângulo de compensado sobre rodízios do tipo skate, deslocando-se sobre tubos, às vezes metálicos, às vezes flexíveis, de pvc. Estas versões mais simples deram grande flexibilidade na elaboração de trabalhos mais elaborados, antes mais custosos devido ao peso e características dos antigos dollys. Grandes estúdios e produções médias continuam a utilizar a versão mais pesada em determinadas cenas, mas a versão leve tornou-se verdadeiro "coringa", podendo ser vista mesmo em alguns estúdios de TV.

O movimento, antes restrito a aproximar ou afastar a câmera da cena, ganhou a variação circular, com o chamado arco, onde os trilhos são curvos e a câmera, geralmente voltada para o centro, dá a volta em torno do personagem.

In, out, back: as variações do dolly

Quando a câmera aproxima-se da pessoa ou objeto em cena, diz-se que está ocorrendo um dolly in. Quando, ao contrário, a câmera dirige-se para trás, está sendo efetuado uma movimentação do tipo dolly back. E existe o dolly out, movimento da câmera em que ela abandona o enquadramento de uma pessoa / objeto em busca de outro motivo na cena. Este movimento combina o dolly back com a movimentação da câmera passando a apontar para outros locais da cena. Enquanto que no movimento dolly back a pessoa / objeto mantém-se enquadrados, no movimento dolly out este enquadramento deixa de existir, à medida que a câmera afasta-se dos mesmos.

Para cima e para o alto: as gruas

Os limites da movimentação da câmera tornaram-se pequenos: a criatividade dos diretores exigia mais e mais. Apareceu a grua, uma haste longa com suporte para a câmera em sua extremidade. A haste, denominada lança, apoiava-se em um suporte através do qual era articulada. Atualmente este suporte pode ser próprio para a grua ou, às vezes, através de um dispositivo de adaptação, as mesmas pernas modificadas de um tripé robusto. Geralmente os pés do suporte da grua possuem rodízios, para facilitar sua movimentação, sobre trilhos ou não. Existem gruas com várias dimensões e em algumas delas a lança pode atingir vários metros de comprimento. Para facilidade no transporte, geralmente são modulares, sendo montadas e desmontadas no local de uso. Além disso, diferem em sua construção quanto ao peso máximo da câmera que podem suportar, desde as menores, para câmeras pequenas, até as que levam além da câmera, também seu operador, instalado em uma plataforma com um assento atrás da mesma - estas são geralmente empregadas em grandes produções de cinema e TV.

Na extremidade oposta à câmera, são colocados contrapesos para equilibrar a lança da grua, trazidos das academias de ginástica (alterofilismo) para o mundo da videoprodução. Estes são ajustados conforme o peso da câmera e o comprimento da lança. Nos modelos maiores, que carregam também o operador em sua extremidade, pesos maiores em em outros padrões de formatos são empregados. Após o balanceamento, torna-se fácil e suave sua movimentação e posicionamento em qualquer altura. Normalmente as gruas possuem mecanismos de freios ou travas no ponto de apoio da lança, através dos quais é possível fixá-las em determinada posição, anulando individualmente os movimentos de pan e tilt. Além do movimento de sobe e desce a lança pode também ser girada para os lados, em um movimento de pan.

Variações sem limites

As técnicas acima descritas são apenas uma pequena amostra de alguns dos tipos mais básicos de movimentação. Podemos dizer que hoje em dia não há mais limites para onde se quer e se pode colocar as câmeras, desde a suavidade do steadicam às ventosas para fixá-las do lado de fora de um carro, passando pelos capacetes dos paraquedistas ou às microcâmeras escondidas nos mais inusitados lugares. A câmera de vídeo, que hoje pode ser engolida sob a forma de um comprimido - para realização de exames de imagem - há muito deixou a parte superior dos antigos tripés fotográficos.