Toda produção de vídeo envolve algum tipo de emoção, entendendo-se em um sentido amplo, a angústia na busca de clientes, na busca de recursos, na busca da página do manual onde aquele comportamento aparentemente estranho da câmera possa estar explicado, entre outras "angústias". Que são também emoções, assim como o empolgação com a nitidez conseguida na imagem em determinado enquadramento, com a luz certa que funcionou ou com o que estava a frente das lentes, que colaborou para o sucesso do empreendimento, o que pode ser uma belíssima imagem de alguém, profissional ou não, de uma paisagem... e às vezes nossos "atores" são os mais diferentes seres, bichos que gostam de se exibir em documentários.

E para que tudo aconteça conforme o planejado, para que consigamos essa bela imagem, é muito útil poder conferir antecipadamente o que estará sendo registrado pela câmera. As primeiras câmeras, tanto fotográficas como de cinema, não possuíam nenhum tipo de acessório desse tipo. Se pensarmos um pouco, veremos que de certa forma eram mesmo até dispensáveis, em uma época onde não existiam lentes zoom nem era praxe trocar objetivas nas câmeras. O enquadramento era um só, ou à certa distância para paisagens ou mais próximo, para retratos. O ajuste empírico da posição da câmera bastava.

Com o aperfeiçoamento da fotografia e, mais do que isso, com o surgimento da fotografia-arte, tornava-se necessário conhecer antecipadamente os limites da área a ser registrada no filme, em outras palavras, ver antes de registrar definitivamente. Assim surgiram os primeiros visores nas câmeras, verdadeiros "buracos" feitos paralelamente à objetiva, que permitiam se tivesse uma idéia de como o resultado iria ficar.

Esses visores toscos evoluíram quando se percebeu que a imagem gravada era um tanto diferente da enquadrada no visor, devido a um efeito chamado paralaxe: como o visor ficava deslocado em relação ao eixo da lente, acabava "vendo" coisas ou de mais ou de menos. Lentes foram instaladas nesses visores, na tentativa de corrigir esse erro, mas as câmeras desse tipo sempre apresentaram, em maior ou menor grau esse problema, até tempos recentes.

O visor reflex na câmera fotográfica veio, para os profissionais e depois para os hobbystas, corrigir esse problema, através de um pequeno espelho que subia no momento do clique (para a luz passar para o obturador / filme). Processo análogo ocorreu na câmera de cinema, com um espelho giratório.

Os tempos evoluíram então (muito) e tudo se transformou em bits e bytes. E com eles chegou o visor eletrônico. Vamos agora deixar as câmeras fotográficas e as de cinema, que também muito se sofisticaram nos últimos anos e nos focar no nosso objetivo, as câmeras de vídeo. Seus visores, denominados viewfinders em inglês, já foram minúsculos tubos de imagem CRTs, tão pequenos que cabiam no fundo de uma estrutura com uma lente ocular na ponta. Aliás, em P&B, permaneceram durante muito tempo nas câmeras profissionais, devido à grande facilidade de permitir o foco pelo operador. A novidade, os viewfinders com minúsculos LCDs coloridos que invadiam o mercado doméstico, era rejeitada no segmento profissional pelos fabricantes. Sim, o LCD surge pela primeira vez nas câmeras de vídeo não no que se conhece hoje como "visor LCD" e sim dentro dos viewfinders. Essa rejeição tinha um bom motivo: para ser colorido, a resolução tinha que ser três vezes menor do que nos monitores P&B (olhe a tela de seu televisor bem de perto e você vai descobrir porque). E, mesmo assim, a tela do CRT não é formada por uma grade de pixels, o desenho das linhas é contínuo.

Mas os tempos continuaram a evoluir e a tela LCD ganhava cada vez mais pixels por milímetro quadrado, ou seja, aumentava sua resolução. A partir de certo ponto, seu uso também passou a ser aceitável mesmo em equipamentos profissionais, embora com um "truque": para focalização, a imagem pode ser mostrada em P&B, aproveitando para isso todos os pixels da tela, o que propicia mais nitidez no foco. Outros mecanismos auxiliares também surgiram, como janelas mostradas na imagem que podem ser ampliadas para mostrar detalhes da imagem e facilitar a focalização. Com a chegada dos equipamentos HD (high definition) a questão do foco certo aumentou de importância, era como se os expectadores, antes ligeiramente "míopes", agora estivessem usando "óculos": o que antes passava desapercebido, agora não mais.

Surge então o visor externo nas câmeras, o conhecido visor LCD. Este visor permitiu uma estética diferente para o operador da câmera, na verdade uma nova maneira de se trabalhar. Antes, com um dos olhos presos no viewfinder, era muito difícil ver o que se passava à volta. Com a cabeça livre, à distância da câmera, um leve olhar para o visor LCD permite conferir o enquadramento e ao mesmo tempo pesquisar à volta por outros motivos interessantes, permitindo com extrema facilidade o re-enquadramento.

Essa situação foi e é muito aproveitada no steadicam, onde o operador confere o enquadramento no visor à distância, podendo ter noção de seu deslocamento e dos movimentos a serem feitos, ainda que em muitos casos conte para isso com a ajuda de um assistente orientando-o através da cintura. No steadicam o visor sai do lado da câmera e migra através de um cabo algumas dezenas de centímetros além. E ganha, nos equipamentos voltados ao segmento profissional, a imagem brilhante de fósforo verde dos antigos monitores de computador, quando a cor ainda não reinava por suas telas. Neste caso com uma boa finalidade: a função do operador de steadicam nessas equipes é somente a movimentação e o enquadramento (o que já é um trabalho e tanto); os demais ajustes (foco aí incluído) ficam por conta de assistentes que acessam e controlam remotamente a imagem (equipamentos do tipo video assist). E a tela verde é a que propicia mais contraste e visão mesmo sob Sol aberto.

Do steadicam para as gruas: o monitor pode distanciar-se ainda mais do corpo da câmera. Nas gruas ele é geralmente afixado em sua base, ou então colocado em um local próximo. Já tão distante assim, em um equipamento por si só de grande porte, não justifica-se mais a manutenção de seu diminuto tamanho. Pode-se então ter monitores com telas maiores, embora determinados tipos de gruas de pequeno porte podem apresentá-lo, em tamanho menor, afixado em sua extremidade. É possível operar a câmera remotamente com facilidade: a maioria das câmeras Mini-DV do segmento semi-profissional por exemplo, apresenta um pequeno conector de saída denominado LANC (de Local Application Control). Neste local é encaixado um cabo que, ligado a um pequeno aparelho na outra ponta permite o controle de algumas funções da câmera, como REC, PAUSE, foco, etc... O monitor é acoplado através da saída de vídeo (composto ou S-VHS) também existente na câmera.

E aqui e também em estúdios, para controle refinado da imagem, o tradicional CRT ainda é insuperável, principalmente em resolução de cores. Ou pelo menos era: os fabricantes de LCD correm para oferecer resoluções e características de exibição de imagens em movimento equivalentes, o que tem-se praticamente conseguido. O problema é que os CRTs, embora ainda em algumas aplicações não igualados pelos CRTs, estão forçosamente com os dias contados, por conta de resoluções como o protocolo de Kioto, que regula emissão de poluentes na atmosfera - o processo de construção e descarte desses aparelhos não anda de mãos dadas com a ecologia.

O plasma é fora de questão para aplicações de monitoramento, não somente por seu tamanho mínimo ser muito grande (telas menores não são economicamente viáveis) como por falhas na reprodução apurada de cores. É um equipamento voltado para exibição (nos home theaters por exemplo).

Como sempre tudo evolui, novos tipos de monitores podem e devem surgir no horizonte, até mesmo para aposentar o visor LCD. Mas, por enquanto, aperfeiçoado cada vez mais, será durante algum tempo parceiro nos diversos equipamentos de videoprodução.