A urna repleta de cupons já foi colocada no local do sorteio e a garota aproxima-se para retirar dali os nomes dos cinco ganhadores. Muita gente ao redor, você com sua câmera até tentou, mas não conseguiu chegar mais perto para registrar com clareza os nomes a serem anunciados por ela, de viva voz, sem o uso de microfone. É quando, no meio da pequena multidão, você olha ao redor e vê um local onde pode subir e ficar um pouco acima das cabeças à sua frente. Momento de acionar o zoom, para aproximar a imagem até enquadrar em close o rosto da garota. Só falta agora....

O áudio, claro! Dali onde você está, metros e metros atrás do pequeno palco e portanto da urna e da garota, como registrar o som de sua voz anunciando os nomes? Por sorte sua câmera está equipada com um microfone em forma de um longo tubo, o chamado shotgun, e, em algum lugar, você lembra de ter ouvido falar em "microfone do tipo zoom". Muito bem, basta então regular o microfone para a posição "sons distantes" e ter o áudio registrado com a clareza de quem está na frente da garota, certo?

Errado. Nenhum microfone faz o que o zoom faz na imagem, ou seja, aproximar como se estivéssemos bem em frente da pessoa que fala. O que microfones como o shotgun fazem é rejeitar, em maior ou menor grau (algumas vezes de forma regulável) os sons provenientes dos lados do mesmo, tendo-se como resultado somente o áudio preponderante emitido por algo que localiza-se na parte frontal do microfone. E isso é muito diferente de aproximar o microfone da fonte sonora. Se a garota do sorteio estivesse usando um microfone de mão e pudéssemos comparar seu áudio com o do shotgun registrado lá de trás, veríamos que os dois soariam muito diferentes.

Isso nos leva à questão: quais os principais tipos de microfones empregados em videoprodução existentes, e para que servem?

O microfone, esse aparelho de captura de ondas sonoras inventado por Alexander Graham Bell para seu revolucionário invento chamado "telefone", é geralmente classificado de três modos: quanto ao tipo de funcionamento, quanto à forma e quanto ao padrão de captura de áudio.

Modos de funcionamento

Os principais tipos de microfones quanto ao modo de funcionamento são o dinâmico e o condensador. O dinâmico é o mais simples deles em termos de construção: um diafragma flexível registra as vibrações dos sons à frente do microfone. Atrás do diafragma encontra-se uma camada de grãos de carvão condutora de eletricidade. Esta, por sua vez, situa-se ao lado de um ímã permanente. A vibração das ondas sonoras faz com que o diafragma também vibre, comprimindo de forma mais intensa ou menos intensa a camada de carvão. A compressão variável acarreta uma movimentação da camada de carvão em relação ao imã, movimentação esta que gera um sinal elétrico, que por sua vez irá representar o som. A fidelidade deste tipo de microfone é muito boa; de construção robusta e resistente, tem custo relativamente baixo, sendo um dos tipos mais utilizados em uma diversidade enorme de aplicações. Sua sensibilidade no entanto não é excelente: para registrar sinais com qualidade o som captado tem que ser suficientemente forte. Isto significa que microfones dinâmicos funcionam melhor quando posicionados bem próximos à fonte sonora.

Em relação ao dinâmico, o microfone do tipo condensador possui fidelidade sonora bem maior. Também conhecido como microfone capacitivo, necessita, ao contrário do dinâmico, de energia elétrica para funcionar. Assim, microfones deste tipo funcionam, conforme o modelo, com pilhas, baterias ou recebendo energia através do próprio fio, fornecida por exemplo pela câmera. Este último tipo de alimentação é chamado phantom power (energia fantasma), por que trafega através do mesmo fio que liga o microfone à câmera transmitindo o sinal sonoro. O diafragma utilizado nesses microfones é bem mais fino e delicado do que o utilizado no tipo dinâmico, o que se traduz em aumento de sensibilidade. Por outro lado, isto também torna o microfone menos robusto e resistente ao manuseio.

Existem dois tipos de microfones do tipo condensador: um deles, mais sofisticado, é constituído de duas placas de metal muito próximas uma da outra, uma rígida e outra flexível, fazendo o papel de diafragma; a energia fornecida pela fonte externa mantém as placas energizadas. Quando as ondas sonoras atingem a placa flexível, fazem com que a mesma vibre, alterando deste modo sua distância em relação à placa rígida (mais perto / mais distante): esta variação na distância entre as placas cria uma variação na voltagem, traduzindo-se no sinal elétrico que representa o som.

O outro tipo, menos elaborado, é o chamado eletreto-condensador. Neste tipo as placas são permanentemente energizadas; porém o sinal elétrico gerado é muito fraco, necessitando amplificação: este pré-amplificador está embutido, miniaturizado, dentro do próprio microfone. A quase totalidade dos microfones embutidos nas câmeras de vídeo é do tipo eletreto-condensador. São empregados microfones do tipo condensador pela melhor qualidade que o mesmo propicia em relação ao dinâmico e pela facilidade de obter alimentação elétrica (da própria câmera).

Forma

Quanto à forma, podemos classificar os microfones encontrados em videoprodução nos grupos: microfone de mão (o mais simples deles), microfone de lapela (que, como o próprio nome diz, costuma ser fixado à roupa da pessoa) e shotgun (no formato de um longo tubo). Existem no entanto diversos outros tipos de microfone, como o instrumental, fabricado com a finalidade específica de gravar instrumentos musicais. Ao contrário do microfone de mão, que necessita de proteção interna contra choques mecânicos e conta geralmente com uma esfera de arame trançado para manter seu elemento sensível interno a relativa distância da boca da pessoa (podendo-se acrescentar uma proteção adicional de espuma), o microfone instrumental não possui nada disso. Com aspecto visual mais light, assemelha-se a um cilindro comprido e fino. Existem ainda outros tipos, como o microfone de estúdio (utilizado em gravações de voz em rádio e para CDs), o microfone parabólico (utilizado em esportes para registro de sons distantes), o do tipo boundary (registra todos os sons acima de uma superfície, utilizado sobre uma mesa de reuniões por exemplo) etc...

A existência ou não de fio é somente uma característica adicional (com suas vantagens e desvantagens), às vezes até uma exigência, mas que pode ser encontrada em qualquer tipo de microfone. O "não ter fio" significa existir um transmissor em uma ponta e um receptor em outra - o tipo de microfone utilizado nesse esquema pode ser qualquer um: de mão, de lapela ou shotgun.

Transmissor / receptor no sem fio

O transmissor é colocado próximo à cena ou fixado / instalado às vestes da pessoa que fala enquanto que o receptor geralmente (mas nem sempre) fica fixado à própria câmera. Nos microfones de mão sem fio, transmissor e bateria fazem parte do próprio corpo do microfone e por este motivo o microfone é um pouco maior em comprimento do que os tradicionais, além de possuir uma pequena antena em sua base. Microfones de lapela utilizados no esquema "sem fio" são geralmente do tipo condensador, uma vez que existe a facilidade de captação de energia do próprio transmissor.

Os receptores fixados à câmera são alimentados por uma bateria independente (geralmente de 9V). O som captado é direcionado através de um cabo à entrada de som externo da câmera.

A maioria dos transmissores utilizados no segmento semi-profissional trabalha na frequência VHF (Very High Frequency), com frequências variando em torno de 170 - 220 Mhz. Embora de qualidade aceitável, os sistemas que trabalham em VHF estão sujeitos a interferências e interrupções ocasionais na transmissão. Estes problemas são bastante reduzidos em sistemas que trabalham na frequência UHF (Ultra High Frequency). Com preço superior aos do tipo VHF, são geralmente utilizados no segmento profissional, com frequências variando em torno de 470 - 600 Mhz.

Para melhorar a captação do sinal transmitido tornando-o mais imune à interferências, alguns tipos de receptores utilizam dois circuitos independentes de recepção, resultando em duas antenas ligeiramente separadas, lado a lado. Um microprocessador faz a todo momento o teste de sinal entre um e outro receptor, escolhendo automaticamente o que possuir sinal de melhor qualidade. Como as ondas de rádio são facilmente refletidas por paredes, colunas e outros obstáculos densos, muitas vezes a pequena mudança de posição entre uma antena e outra faz a diferença.

Existem modelos de receptores mais baratos, que também utilizam duas antenas mas não possuem o microprocessador. A qualidade do sinal gerado neste caso não é tão boa. Os melhores, que utilizam o primeiro sistema são conhecidos como true diversity.

Padrão de captura

O padrão de captura de áudio dos microfones pode variar bastante. Trata-se aqui do problema relatado no início, da garota sorteando os cupons. Alguns tipos de microfone captam todos os sons ao seu redor, não importando de onde venham, de trás, da frente, de um lado ou de outro. Sons provenientes de todas as direções são registrados e seu tipo é indicado pelo nome omnidirecional, onde "omni" significa todas - todas as direções. A sua área de sensibilidade assemelha-se a de uma esfera, como mostra a ilustração abaixo:

Se não há necessidade de se isolar sons indesejados provenientes de determinadas direções, este tipo de microfone poderá ser o escolhido. Por não possuir mecanismos de seletividade direcional de sons em sua construção, possui baixo custo quando comparado aos demais.

Os tipos restantes são conhecidos como direcionais, como o cardióico por exemplo. Sua área de sensibilidade, situada à sua frente, possui o formato de um coração (daí seu nome), como mostra a figura:

Como ele rejeita sons provenientes da região traseira, concentrando sua sensibilidade em uma única direção principal à sua frente, também é conhecido por unidirecional. Com área de sensibilidade ainda menor, temos, na ordem, o microfone supercardióico e o microfone hipercardióico, como mostram as ilustrações a seguir:

Finalmente, o shotgun: com o mesmo nome da classificação de seu formato, sua área de sensibilidade, frontal ao mesmo, é mais restrita ainda do que a do hipercardióico. No formato de um longo tubo, possui comprimento proporcional à redução da área frontal de sensibilidade, ou seja, quanto mais longo o tubo mais direcional será o microfone, rejeitando sons provenientes de áreas situadas fora da área para onde o tubo é apontado. Apesar de muito restrita, esta área de sensibilidade sempre será bem maior do que o diâmetro do próprio tubo, e nunca tão fechada como se o próprio tubo se prolongasse até a cena gravada. Possui alta direcionabilidade, o que não é o mesmo que alta sensibilidade: sua sensibilidade é a de um microfone normal, apenas a área da mesma é que é extremamente reduzida.

É comum a montagem do shotgun em uma longa haste (boom), através da qual o mesmo é suspenso acima de um grupo de pessoas falando por exemplo. Geralmente é recoberto por um tubo maior de espuma para evitar ruídos (atrito com o vento por exemplo) em sua estrutura. Em situações que exigem menos interferências desse tipo pode ser recoberto ainda por uma camada felpuda de lã.

A forma de utilização mais comum no entanto é fixado à câmera. E isso pode pelo menos servir de consolo: os sons do público gritando a seu lado durante o sorteio serão registrados com intensidade muito menor do que o som do público gritando à sua frente... O que não resolve o problema mas pode servir para uma regra de ouro: em se tratando do registro de sons, vale o quanto mais próximo, melhor!