Luz e imagem sempre estiveram associados, desde os tempos das pinturas pré-históricas. Afinal, sem luz imagem alguma pode ser vista pelo olho humano. E embora seja hoje possível o registro de imagens em locais completamente sem luz, sua qualidade ainda está ligada diretamente à existência de luminosidade, de preferência, em razoável intensidade. Isso decorre dos processos utilizados normalmente no registro das imagens e remonta às primeiras experiências com a fotografia.

As substâncias químicas sensíveis à luz empregadas nos antigos filmes fotográficos demoravam muito para sofrer as transformações exigidas para possibilitar a revelação e exibição posterior das imagens registradas. Por isso, os candidatos a serem retratados precisavam imitar de certa forma aquelas pessoas que vemos hoje às vezes nas ruas, ganhando a vida fazendo-se de estátuas.... Com o tempo no entanto, a sensibilidade química dos filmes foi melhorando, até que surgiu o cinema - impossível se isso não tivesse ocorrido: afinal, como registrar uma série de fotos em apenas 1 segundo?

Porém nessa época, ainda assim muita luz era necessária para registrar as imagens cinematográficas se estas não fossem realizadas em ambiente aberto. Por este motivo, os primeiros estúdios de cinema possuíam grandes janelas e o teto muitas vezes ficava aberto ou então era de vidro: a luz do Sol era imprescindível. Thomas Edison chegou ao requinte de montar um estúdio em uma plataforma giratória, que era reposicionada cada vez que o Sol encontrava-se em uma posição significativamente diferente da anterior.

A sensibilidade e qualidade das emulsões deu passos imensos, os estúdios puderam ser fechados, vieram os CCDs e os CMOSs e chegamos assim aos dias de hoje. A situação de gravações externas não mudou muito: a luz do dia, quando claro, é suficiente para o registro das imagens, mas isso é somente meio caminho andado. Produções profissionais empregam luz mesmo em ambiente externo, para corrigir sombras, causar efeitos e mudar tonalidades de cor: podemos dizer que a luz permite moldar plasticamente uma imagem tridimensional de tal forma que ao compararmos duas delas, uma sem o recurso da luz e outra com, em muitos casos as diferenças serão bem marcantes.

E essa luz não precisa ser uma luz de fonte própria: principalmente em ambiente externo, pode ser a luz rebatida do próprio Sol: rebatedores são bastante empregados para isso. Mas, quando artificial, seja em interiores ou exteriores, ainda emprega, em sua maioria, refletores que utilizam lâmpadas incandescentes. Este tipo de lâmpada está entre as menos eficientes na geração de luminosidade, se considerarmos o balanço energia consumida x energia luminosa produzida. Uma pequena parte da energia elétrica consumida por essas lâmpadas (cerca de 10%) é convertida em calor: é por isso que lâmpada, soquete e toda sua estrutura de fixação dentro do refletor esquentam. No entanto, é engano pensar que os 90% restantes correspondem à luz emitida, que de fato ilumina os objetos e pessoas em cena. Somente 5% desses 90% equivale à luz visível, os restantes 85% equivalem à luz que nossos olhos não conseguem enxergar: radiação infra-vermelha. É por este motivo que as partes atingidas por essa luz esquentam, desde o revestimento interno do refletor e o eventual vidro colocado na sua frente (às vezes com gelatinas fixadas no local) até os objetos e pessoas iluminados. O que esquenta não é a luz que vemos e sim a radiação que não vemos.

Essa perda de eficiência levou nos últimos tempos ao surgimento de refletores portáteis, para uso em cima das câmeras de vídeo, montados com um array de LEDs potentes. Os LEDs comportam-se de maneira diferente das lâmpadas incandescentes: embora a energia recebida também seja transformada em luz e calor, sua luz não emite ondas na faixa infravermelha. Assim, em um LED típico, cerca de 85% dessa energia é convertida em calor e 15% em luz visível. Essa maior eficiência se traduz em menor consumo de energia - normalmente, nesse tipo de equipamento, fornecida por uma bateria portátil, embora em alguns casos utilizando a energia da própria câmera, o que não é recomendado por diminuir drasticamente o tempo de gravação. O ponto negativo é que ainda não produzem tanta luz quanto os refletores tradicionais, embora já existam os montados com arrays maiores de LEDs, estes sim, podendo substituir com tranquilidade a luz de câmera tradicional.

A algumas décadas atrás surgiu um tipo de lâmpada incandescente cerca de 30% mais luminosa do que as incandescentes comuns: a halógena. Neste tipo de lâmpada, o filamento existente nas lâmpadas comuns é montado dentro de uma pequena ampola de vidro resistente (quartzo), preenchida com um gás especial. Esta ampola, por sua vez, pode ser montada dentro de outra maior ou então ela própria formar um tubo comprido - o corpo da lâmpada. O pequeno tamanho da ampola permite a geração de luz com um facho altamente focado.Também conhecidas como lâmpada de estúdio Photoflood tipo B, são muito utilizadas em videoprodução.

Diversos tipos de refletores podem ser construídos com essas lâmpadas, desde os que emitem luz mais focada e intensa, até os que produzem um facho mais aberto e abrangente. Podem também ser montadas dentro de grandes caixas de material difusor, os softboxes, para emitir luz suave com um nível muito baixo de sombras.

Quando se exige alta potência luminosa, os antigos refletores que funcionavam com arco-voltaico foram a muito substituídos por sua versão moderna: as lâmpadas HMI. Mais potentes do que as lâmpadas halógenas (3 a 4 vezes) emitem mais luz consumindo menos energia do que estas: a maior eficiência na transformação de energia em luz faz também com que este tipo de lâmpada gere menos calor. Por tudo isto, é com este tipo de lâmpada que torna-se viável a construção de grandes refletores, com grande potência luminosa, muito utilizados tanto em cinema como em vídeo. No segmento profissional existem grandes refletores utilizando este tipo de lâmpada, com potências luminosas altas como 12.000 ou 18.000 W (12kW ou 18kW). No entanto a tecnologia HMI é bastante versátil, permitindo refletores menores, para uso em diversos segmentos, como 8.000 W , 6.000 W, 4.000 W, 2.500 W, 1.200 W ou 500 W.

Refletores empregando lâmpadas desse tipo, assim como os que empregam lâmpadas halógenas de alta potência correm o risco de eventual explosão da lâmpada - situação rara mas real. Assim, geralmente possuem grossos vidros em sua parte frontal e estes tem muitas vezes por cima, uma grade de arame, para proteger o ambiente e pessoas ao redor em caso de acidente. É comum observar também, nesses refletores, esse vidro, ao invés de ser plano, possuir uma série de círculos concêntricos. Trata-se de uma lente Fresnel.

No século 19, estudava-se o que poderia ser feito para ampliar o poder de luminosidade dos faróis marítmos. Uma das soluções era o emprego de lentes; porém, devido às dimensões exigidas, uma lente de vidro tornaria-se extremamente pesada para ser instalada no topo dos faróis. Além disso, seriam necessárias duas, uma de cada lado, e o mecanismo giratório teria dificuldades com o peso extra. Partindo de uma lente plano-convexa (com superfície plana em um dos lados e curva em outro), um físico francês chamado Fresnel percebeu que a espessura do vidro era indiferente para o percurso dos raios luminosos: uma vez dentro da lente, após ter sofrido desvio, a propagação não era afetada se houvesse mais ou menos vidro a percorrer, até que a outra face fosse atingida.

Assim, para reduzir a espessura do vidro, Fresnel dividiu a superfície da lente em diversos círculos concêntricos, preservando a curvatura da face convexa de cada anel. E encaixou esses anéis de forma achatada, reduzindo assim, em muito, a espessura do vidro da lente (a lente foi criada já com esta forma - e não 'recortada' em anéis). A imagem projetada pela lente fica distorcida, devido aos cortes existentes em cada anel concêntrico, não servindo para uso em equipamentos de captura e projeção de imagens. Porém, para projeção de luzes, o invento ficou perfeito, passando a ser instalado nos faróis. E daí para o uso em produção de cinema e vídeo foi um pulo, já que proporcionava um facho intenso e concentrado de luz. É por este motivo que os refletores de alta potência, geralmente do tipo HDMI possuem essa lente em sua parte frontal.

Mas você deve ter visto também, cada vez mais presente nos cenários das produtoras, refletores que empregam lâmpadas fluorescentes na forma de longos tubos. Parentes das lâmpadas comuns que temos nas cozinhas de nossas casas, estas lâmpadas tem construção especial, livrando-as dos defeitos das lâmpadas fluorescentes comuns, principalmente das distorções na reprodução correta do espectro luminoso das cores. Sua luz tem temperatura de cor diferente da dos refletores tradicionais: mais fria (menos alaranjada), exige o ajuste correto na sensibilidade da câmera (processo chamado batimento do branco). Excelente para produzir luz uniforme, com baixo nível de sombras, refletores empregando vários desses tubos são de uso comum em produções de estúdio, inclusive sendo uma ótima opção para iluminação da tela de cromakey.

Os modelos antigos não podiam ser dimerizados, isto é, usar um controlador de intensidade de luz (o dimmer) para graduar a luminosidade da lâmpada, e com isso possuiam chaves para ligar ou desligar individualmente as diversas lâmpadas fluorescentes do refletor. Ainda existem modelos que funcionam desta forma, convivendo com os que aceitam dimmer.

Estes não são todos os tipos de refletores empregados em videoprodução; trata-se apenas de um tour pelos principais tipos, mas suficiente já para que você possa situar-se melhor dentro de um set de gravação.