Com certeza você já viu no cinema ou na TV cenas gravadas em montanhas-russas, onde a câmera participa da aventura - com ou sem operador - registrando, de dentro do carrinho, os rostos das pessoas que lá estão, com seus gritos e expressões de exclamação. Você poderá então lembrar de uma das características marcantes desse tipo de cena: na quase totalidade dos casos, a imagem trepida bastante, tanto quanto os felizes e animados passageiros. Essa trepidação é menos acidental e mais do que proposital: embora existam mecanismos que possam reduzí-la bastante, ela faz parte de uma linguagem: é a tradução do "clima" ali reinante. O expectador ao ver a imagem tremer tem a sensação de estar também dentro do carrinho.

No outro extremo temos as cenas em plano aberto de uma paisagem vista ao final do entardecer. Montanhas não muito altas vistas no horizonte ao longe... à frente, uma grande planície e, na linha do horizonte, onde o Sol não aparece mais, uma fila de cavalos vistos em silhueta, caminha lentamente da direita para a esquerda. Essa cena é "clichê" (algo que se repete muito, com poucas variações) em diversos filmes, principalmente aqueles western antigos (mas em muitos filmes não-western atuais também).

São duas situações extremas. Se o comportamento da câmera for invertido, ou seja, imagem do entardecer com os cavalos ao fundo trepidante e imagem do carrinho na montanha-russa sem trepidação alguma, ambas cenas perderão muito de sua "comunicação". A do carrinho perderá força e a do entardecer passará a noção de alto amadorístico. Por quê isso?

Intuitivamente associamos vibração da imagem com agitação - não por acaso o truque utilizado primitivamente no cinema e na TV para simular terremotos era balançar a câmera. Outra situação é onde propositadamente o expectador é colocado dentro da cena, como na cena do carrinho ou então correndo com a câmera junto com uma multidão que foge de algo.

Fora dessas situações, onde nada disso ocorre, trepidação passa a idéia de erro ou inexperiência do operador. Dito isto, vamos agora recordar das aulas de Física do colégio. Não, não é uma má idéia "tocar nesse assunto" agora.... na verdade é muito simples: trata-se da lei que diz (de forma simplificada) que uma força qualquer aplicada a um objeto produz nele uma aceleração (variação de velocidade) inversamente proporcional à sua massa. Trocando em miúdos, isso quer dizer que se eu der um "peteleco" em uma bolinha de papel ela "voa" rapidamente para longe e que se eu fizer o mesmo em uma bolinha de ferro ela praticamente não se move. O mais pesado tem uma resistência maior para variar a velocidade (do zero, parado, para qualquer outra).

Agora compare: qual câmera pesa mais, as grandes e volumosas câmeras utilizadas no meio profissional ou as minúsculas palmcorders utilizadas para gravar as festinhas de aniversário da família? Bingo !! É por isso que a imagem "treme" mais nessas pequenas câmeras. E é também por isso que as câmeras menores (e as intermediárias, muito utilizadas no segmento semi-profissional) costumam apresentar um mecanismo para minimizar essas trepidações: trata-se do estabilizador de imagem.

Um desses mecanismos é conhecido como estabilizador eletrônico de imagem (EIS - Electronic Image Stabilizer). Sua primeira função é tentar a todo instante descobrir se a câmera se moveu durante a gravação. É bom esclarecer: claro que a câmera na maioria das vezes vai-se mover. Mas alguns desses movimentos são involuntários, consistindo no que chamamos trepidação. Esteja a imagem sendo captada com a câmera parada em um tripé, segura pelas mãos também parada ou então em movimento nos dois casos, é fácil determinar se há trepidação: o deslocamento dos elementos da imagem no visor é muito pequeno, geralmente na forma vai-e-vem, com movimentos pequenos e rápidos.

É isso o que o mecanismo estabilizador vai tentar definir. Os primeiros EIS funcionavam fazendo com que a imagem projetada pelas lentes ocupasse uma porção menor do chip sensor (CCD ou CMOS). Um microprocessador dividia a imagem em pequenos blocos, e comparava o conteúdo de cada um desses blocos com o da imagem anterior, armazenada constantemente na memória. Se houvesse diferença, o programa tentava identificar se poderia ser considerada vibração e para qual lado (esquerdo, direito, para cima, para baixo). Constatado o movimento, para a esquerda por exemplo, o que ia para a fita era a imagem da janela projetada no CCD / CMOS um pouco mais para a direita - daí não ocupar-se toda a área do chip - para compensar o movimento.

Se você não entendeu, pense assim: aponte a câmera (com o estabilizador desligado) para um objeto qualquer e dê uma ligeira pancada para a esquerda. O que acontece com a imagem no visor? Desloca-se para a direita. E o que acontece com o pedaço à direita que estava sendo mostrado? Some da imagem. Muito bem. Digamos agora que o que você vê no visor é só uma janela central da imagem projetada pelas lentes, e que existem pedaços não mostrados, um dos quais está justamente à direita. Como corrigir o movimento para a esquerda? Basta enviar para a fita a imagem que está aparecendo, cortando-se o pedaço a mais que passou a aparecer à esquerda e acrescentando o outro pedaço da direita (que não aparece, mas está "dentro" da câmera). É mais ou menos assim que o processo conserta, em frações de segundo, a trepidação.

Ou tenta consertar. Isso porque o programa era às vezes enganado pelo movimento do operador, que queria executar um movimento de panorâmica movendo a câmera para a esquerda. O EIS tentava, até certo ponto, consertar isso, quando constatava ser o movimento de pan e não uma vibração na câmera. Tarde demais, a cena acabava ficando com um "salto" na continuidade uniforme do deslocamento.

O mecanismo foi então aprimorado, tendo-se incluído sensores eletro-mecânicos de movimento, juntamente com programas mais inteligentes no processo de detecção. Hoje as câmeras que trazem esse mecanismo possuem um funcionamento excelente na tarefa de estabilizar a imagem, sem os "trancos" de antigamente. Os únicos pontos negativos referem-se ao tamanho maior de pixels no sensor e menor na imagem efetiva utilizada, ou seja, menor aproveitamento da resolução total do chip e à manipulação eletrônica feita na imagem. O primeiro ponto não é relevante, pois as câmeras que utilizam esse processo (EIS) geralmente são destinadas ao público amador, incluindo no mesmo equipamento a função de câmera fotográfica digital. Em fotografia não há limite fixo de resolução (amarrado ao formato, como no vídeo), assim, tem-se o quanto mais, melhor. O segundo costuma ser argumentado em favor de um outro tipo de estabilizador, mais sofisticado, complexo e caro - e portanto presente geralmente nos equipamentos semi-profissionais - o OIS, Optical Image Stabilizer.

De fato, entre os dois, o OIS se destaca por não causar nenhuma interferência na imagem. Seu mecanismo trabalha desviando os raios de luz provenientes da objetiva, de forma a atingir sempre o mesmo local no CCD / CMOS, independente de haver ou não vibração. O desvio é feito através de prismas de ângulo variável ou através do deslocamento de lentes especiais dentro da objetiva. No primeiro caso, as paredes de um prisma pelo qual passa a luz são deslocadas em frações de segundo, para compensar a vibração, desviando e corrigindo a trajetória dos raios. No segundo caso, é a lente que se desloca, também em frações de segundo. E o mecanismo é extremamente eficiente na tarefa de identificar e corrigir eventuais vibrações. Por não interferir na imagem, ao contrário do EIS, aconselha-se deixá-lo permanentemente ligado.

Finalmente, algumas dicas: sempre que possível, evite gravar cenas com o zoom posicionado em tele, com a câmera na mão. O ângulo de visão torna-se muito reduzido, o que amplifica qualquer vibração, por menor que seja. Os mecanismos estabilizadores vistos acima ajudam bastante a compensar o problema, mas em muitos casos alguma vibração ainda permanece visível. Ao contrário, quanto mais para grande-angular (posição wide) estiver o zoom, menos perceptível serão os movimentos vibratórios.

Procure firmar bem a câmera quando fora do tripé, segurando-a com as duas mãos e dobrando ligeiramente os cotovelos: encoste os braços ao seu tronco para ter mais firmeza. Primeiro fixe a imagem no visor, acerte o enquadramento e depois, suavemente, aperte o botão REC (ou então faça o corte na edição). Ao caminhar com a câmera, dobre um pouco os joelhos, imitando o famoso personagem Max Groucho. Assim você evita a ondulação do sobe-desce produzida pelos passos. Encoste em algum lugar (poste, parede, etc..) em cenas onde o zoom vai ser utilizado para aproximar a imagem.

E agora, com essas informações, a menos que sua intenção seja entrar para a fila da montanha-russa, se você vai trabalhar com uma câmera pequena, aproveite os benefícios da tecnologia e acabe quase que totalmente com as trepidações!!