Quando vamos trabalhar com o registro de imagens, seja em meio analógico ou digital, nos deparamos muitas vezes com conceitos e termos técnicos que, se entendidos corretamente, nos ajudariam a lidar com mais desenvoltura no processo como um todo. Esta é a segunda parte deste pequeno glossário.

CCD

- a imagem forma-se, projetada pelas lentes de uma câmera fotográfica, sobre a superfície do papel fotográfico ou da película cinematográfica. O papel do CCD ou do CMOS na câmera de vídeo é o mesmo. Composto por milhares de células minúsculas, os pixels, faz a grosso modo o que os sais de prata fazem na superfície do filme em cine ou foto: transformam-se ao receberem mais ou menos luz. No caso dos filmes a transformação é química, no caso desses painéis digitais é elétrica. Através de um efeito descoberto por Einstein (e que lhe valeu o prêmio Nobel de 1905, o efeito fotoelétrico), as células geram energia elétrica ao receberem energia luminosa. No entanto essa energia não é constante e sim proporcional à intensidade com que são iluminadas e é esse fato que propicia seu emprego na geração de imagens, pois, como se sabe, as imagens só existem para nós porque possuem contraste, ou seja, partes claras misturadas com partes não muito claras ou escuras que se misturam para formar os contornos e nuances dos objetos e pessoas.

Mas o que faz o CCD ser o que ele é (um chip para o registro de imagens) é a associação feita nele, pixel a pixel, de um painel paralelo (como se fosse um sanduíche "misto quente") contendo minúsculos capacitores. Capacitores são dispositivos empregados em eletrônica para armazenar cargas elétricas. Pois bem, a princípio "zera-se" a carga de todos esses capacitores associados aos pixels e a seguir deixa-se o painel com as células fotoelétricas exposto à luz de uma dada imagem nele projetada pelas lentes da câmera. Partes mais claras provocarão a geração de mais energia elétrica, partes mais escuras, de menos. Como consequência, os capacitores associados a esses pixels ficarão com diferentes valores de cargas elétricas, mais carregados onde o ponto da imagem era mais claro, menos carregados onde o ponto da imagem era mais escuro. Basta agora descarregar ordenadamente, de tempos em tempos, seguindo o padrão de linhas e colunas na disposição dos pixels no chip, essas cargas acumuladas para se ter uma sequência elétrica denominada sinal de vídeo, representando a imagem registrada pela câmera.

CCD é a abreviatura de Charge Coupled Device, termo que está relacionado com a forma como a carga dos pixels é descarregada (formando uma sequência de cargas acopladas umas às outras). Essa sequência (como se fosse um trem de minério carregado) é lida fora do CCD, por chips especializados nessa e em outras funções de manipulação da imagem. E aqui tem-se a principal diferença em relação ao CMOS (veja abaixo).

CMOS

- abreviação de Complementary Metal Oxide Semiconductor, são semelhantes aos chips de imagem CCDs, inclusive mais antigos do que estes. A tentativa de se obter um chip eletrônico para o registro de imagens já havia sido feita antes, com o CMOS. Ambos, CMOS e CCDs não passavam, à época, de memórias para uso em placas de microcomputadores. No entanto, uma diferença de tamanho selou o destino do CCD: quando foram criados os painéis contendo milhares de pixels, era preciso associar a cada um deles um acumulador de carga; estes milhares de acumuladores teriam a seguir suas cargas extraídas de tempos em tempos para formar o sinal elétrico de vídeo. Era preciso lançar mão então de chips de memória para realizar a tarefa. A memória CCD podia ser desmembrada em uma parte somente para armazenar e transferir as cargas e outra para fazer todo o processamento do sinal gerado. Já a memória CMOS não podia ser desmembrada desta forma: era muito grande portanto para, mesmo miniaturizada, poder ser associada pixel a pixel sem que estes tivessem que ficar muito espaçados - leia-se, com baixa resolução.

A partir desse momento o CCD passou a ser utilizado como chip gerador de imagens nas câmeras de vídeo, que até então utilizavam antigos tubos de imagem mais ou menos como o tubo de um televisor CRT ao contrário. Mas o CMOS também recebeu essa função, só que para chips de baixa resolução, gerando imagens em P&B para câmeras que não necessitavam de muita qualidade - como as de vigilância nos circuitos internos de edifícios por exemplo. Na época, surgiram outros tipos de memórias melhores para computadores, como o EEPROM por exemplo, e os chips CCD e CMOS foram deixados de lado nessa função, sendo seu uso tornado exclusivo para a captação de imagens.

O tempo fez o nome de um ser tomado pelo outro, e hoje essas siglas são associadas unicamente a chips de imagem. E fez mais: ao longo dos anos mais recentes, a tecnologia de miniaturização deu passos cada vez mais largos, propiciando finalmente a fabricação de chips CMOS com alta densidade de pixels. Seu uso passou a rivalizar com o do CCD e suas qualidades tem chamado a atenção cada vez mais dos fabricantes: mais baratos, de construção mais simples, menores, consomem menos energia e possuem relação sinal/ruído melhor. Aliada a essas vantagens, a possibilidade de serem mais facilmente fabricados (um pequeno grupo de empresas fabrica hoje os CCDs) tem feito com que os CMOS apareçam cada vez mais nas câmeras. O CCD ainda tem melhor sensibilidade à luz e algumas características que o fazem ser preferido em determinadas aplicações, mas prevê-se que com o passar dos anos o CMOS, em constante melhoria, terá alcançado qualidade igual.

dropout

- teoricamente as fitas magnéticas utilizadas em vídeo são fabricadas para poderem ser regravadas centenas e centenas de vezes sem apresentar nenhum problema. Porém, na realidade, cada regravação deixa-as mais propensas a sofrer falhas na reprodução das imagens. Esta situação não é exclusiva das fitas utilizadas em formatos analógicos, como o VHS, S-VHS e Betacam-SP por exemplo, atinge também as fitas dos formatos digitais como Mini-DV, HDV e outros. Apesar dos cuidados em sua fabricação como o uso de lubrificantes especiais em sua superfície, o inevitável atrito com o cilindro giratório das cabeças de gravação vai aos poucos acarretando desgaste da camada de proteção. Com o tempo, a camada contendo as partículas magnéticas fica exposta e no atrito não só com a superfície do cilindro, mas também com os pequenos roletes e rodízios internos que direcionam a fita dentro do cassete, pode ter algumas partículas desprendidas.

Esses pontos perdem a capacidade de reter informações - no caso dos formatos digitais de ter partículas metálicas magnetizadas (polarizadas conforme a orientação Norte/Sul magnética) representando os "0"s e "1"s da informação binária. Embora minúsculos, os pontos falhos podem-se refletir na imagem alterando-a. Os sistemas digitais possuem diversos mecanismos de recuperação automática de dados perdidos em caso de falha, porém essa recuperação possui um limite, que se extrapolado, resultará em falha na reprodução da imagem: tem-se o dropout. O dropout digital aparece na imagem como diversos retângulos muito pequenos, espalhados, que aparecem e somem repentinamente, mas que são visíveis por terem coloração diferente das partes da imagem sendo mostradas sobre as quais aparecem.

Uma dúvida frequente é se o dropout digital, em uma fita Mini-DV por exemplo, não seria acarretado pelo uso repetido diversas vezes da mesma fita. De fato, esta afirmação procede, mas está também relacionada diretamente ao tipo de aplicação do vídeo em questão. No âmbito profissional, trabalhos que exigem qualidade broadcast não reutilizam nenhuma fita na câmera. Por outro lado, no meio semi-profissional reutilizar um pequeno número de vezes a mesma fita pode não ser o pesadelo imaginado quando eventuais e raras falhas não são na maioria das vezes nem percebidas pelos clientes, além de poderem ser contornadas em muitas ocasiões na fase de edição. Já no meio doméstico, usar uma única vez cada fita assume a proporção de um prejuízo injustificado: a visibilidade ou não de um eventual defeito é diretamente proporcional à qualidade, precisão e resolução dos equipamentos utilizados. Não vale a pena importar-se, até certo ponto (descontando, claro, exageros de dezenas e dezenas de reutilizações) com algo que, se ocorrer, passará com certeza desapercebido pelos ansiosos assistentes na sala de visitas, esperando para ver o último vídeo das férias.

EIS

- abreviação de Electronic Image Stabilizer, o estabilizador eletrônico de imagens. Menos sofisticado que seu irmão OIS (estabilizador óptico), faz seu trabalho diretamente sobre o chip CCD ou CMOS onde são projetadas as imagens. Basicamente esses chips são maiores do que o necessário para conter a janela da imagem - e aqui está o truque da estabilização. Sensores de movimento localizados dentro da câmera "percebem" quando ela efetua um movimento pequeno e brusco, típico de uma trepidação indevida. A seguir, em frações de segundo a informação é enviada a um processador, que desloca a janela da imagem, no CCD ou CMOS, na mesma direção do movimento de trepidação, mas no sentido contrário, anulando, com isso, seu efeito na imagem.

Na realidade as lentes projetam sobre o CCD / CMOS uma imagem maior do que a imagem gravada na fita: esta localiza-se dentro da janela acima citada. O que o mecanismo faz é considerar, para geração da imagem, pixels mais à esquerda ou mais à direita, mais para cima ou mais para baixo - isso é que é o resultado do deslocamento da janela acima citado. Claro, tudo tem um limite, e o sistema não consegue "consertar" grandes deslocamentos, mas estes já não são mesmo considerados vibrações acidentais - utilização do zoom ajustado em tele com a câmera nas mãos por exemplo. O sistema de sensores tem-se aprimorado com o tempo - no princípio chegava a confundir o movimento de pan com trepidação, tentando corrigí-lo. Mas, seja como for, para fazer o trabalho com a janela há interferência direta sobre os pixels, ou seja, manipulação eletrônica nem sempre 100% perfeita na preservação da qualidade original da imagem, como ocorre com o OIS descrito a seguir.

OIS

- abreviação de Optical Image Stabilizer, o melhor estabilizador de imagens, porém o mais caro e sofisticado: os mesmos sensores do EIS fazem aqui funcionar micro-motores elétricos que efetuam movimento ultra-rápido em uma das superfícies laterais de um prisma cheio de fluido especial, fazendo com que os raios de luz provenientes da objetiva corrijam sua trajetória e mantenham a imagem onde ela deveria ficar, alinhada nas bordas do CCD / CMOS. Outra variação do sistema é a movimentação de uma lente que faz o papel do prisma. Por não interferir na qualidade óptica da imagem, ao contrário do EIS, pode permanecer constantemente ligado na câmera.