É conhecida das crianças uma brincadeira com as cores: olhar fixadamente durante alguns minutos para um papel ou uma parede colorida ou então um objeto - de uma única cor e de preferência, cor simples e uniforme, como verde por exemplo. A seguir, ao desviar a vista para uma superfície branca, vê-se uma mancha ou a sombra daquele objeto, durante alguns segundos até sumir. Mas uma coisa chama a atenção: nesse momento a cor que era vista antes "muda": se era verde, torna-se vermelho por exemplo. Assim, ao olhar durante algum tempo de forma fixa para uma caixa azul e depois para um papel branco, via-se a forma da caixa, mas na cor laranja. A bandeira do Brasil tornava-se violeta, vermelha e laranja...

Mas... por trás desse fenômeno, o que estaria ocorrendo? Para entender melhor, um pouco de história...

No início da década de 20 nascia na Alemanha o chamado movimento Bauhaus. Nada a ver com a banda inglesa de Peter Murphy... A Bauhaus era uma escola de arquitetura e desenho, a Staatliches Bauhaus , ou Casa Estatal de Construção, criada pelo arquiteto Walter Gropius, que procurava integrar a arte ao mundo moderno daquela época.

Propunha Walter que a arte não deveria ficar isolada da tecnologia e sim estar próxima dela. Seus alunos participavam, juntamente com os artistas, de diversas pesquisas e experimentações, envolvendo especialistas em diversas modalidades, como a fotografia, o teatro, a música, a dança e a pintura.

Walter Gropius havia chamado para fazer parte da Bauhaus um pintor suíço chamado Johannes Itten, amigo de alguns pintores famosos da época, como Vassily Kankinsk e Paul Klee.

Itten fazia um estudo comparativo entre diversos trabalhos de diferentes pintores famosos e começou a perceber que havia um certo senso comum entre as cores utilizadas em seus quadros. Eles faziam instintivamente diversas combinações harmônicas de cores, sem recorrer aparentemente a nenhuma teoria ou técnica. Admirado com essa harmonia, Itten aprofundou-se nas suas pesquisas, analisando diversos trabalhos ao longo dos últimos séculos, procurando ver como esses pintores combinavam as cores. Esse estudo o levou a criar uma teoria para isso, tendo publicado-a em um livro chamado The Art of Color, The Subjective Experience and Objective Rationale of Color.

Nesse livro ele mostrava que, embora as pessoas possuíssem diferentes julgamentos em relação à harmonia das cores, era possível estabelecer algumas regras que faziam sentido para a quase totalidade das pessoas. Explicando melhor: algumas cores sempre combinam-se melhor com determinadas cores do que com outras. Para mostrar como isso acontecia, Itten desenhou um disco em forma de pizza e o repartiu em vários pedaços (fatias), como pode ser visto na figura maior. Essas fatias foram dispostas de forma a que sempre havia uma cor diametralmente oposta a outra. E é justamente essa figura que explica aquela brincadeira das crianças mencionada no início. Mas...como?

Um dos conceitos mais importantes descobertos por Itten é a busca natural do olho humano pelo complemento de uma determinada cor.

No disco criado por ele, que ficou conhecido como Color Wheel (Disco de Cores), o complemento de uma cor qualquer é a que se situa diametralmente oposta à mesma. Assim, olhando para o disco e lembrando das cores da bandeira do Brasil, pode-se perceber que o complemento da cor verde é a cor vermelha, o da cor amarela é a cor violeta e o da cor azul é a cor laranja.

A idéia vai além de descobrir qual cor combina muito bem com que cor, tendo utilidade direta em videoprodução, fotografia e cinema. Na montagem de um desenho, um gráfico ou um cenário, novos elementos vão pouco a pouco sendo adicionados. Nesse momento, pode-se perguntar "mas esse sofá.. que cor deveria ter?"

Se as cores desses elementos que estão sendo acrescentados formam pares complementares no disco de cores, todos os elementos do desenho, gráfico ou cenário, ao seu término, serão harmônicos: traduzirão paz, calma. Ao contrário, se as cores forem assimétricas em relação ao disco, os elementos não serão harmônicos: traduzirão agitação, aflição.

Aqui aparece então um sentido mais aprofundado no uso das cores: saber que conhecendo-se a técnica da combinação de cores é possível expressar emoções. Não por acaso, toda produção de maior orçamento emprega profissionais dedicados a, junto com o diretor de fotografia, estabelecer o "look" das imagens, as cores que serão empregadas, ligando-se isso diretamente às emoções e sentimentos que deverão ser transmitidos aos expectadores.

O disco que aparece na figura grande é do tipo RYB, que é melhor na indicação das cores do que um disco do tipo RGB. Mas, para facilitar as coisas, podemos estudar inicialmente o disco RGB, mostrado à esquerda na imagem menor.

Abreviação das cores Red (vermelho), Green (verde) e Blue (azul), nesse disco estas 3 cores são chamadas cores primárias, porque todas as demais cores e tonalidades podem ser geradas através da combinação delas, em maior ou menor parte cada uma. Somando-se em iguais proporções duas das cores primárias obtém-se as chamadas cores secundárias. Assim, a cor vermelha somada com a cor verde em igual proporção produz cor amarela; a cor verde com a cor azul produz cor ciano e a cor vermelha com a cor azul produz magenta. A soma em iguais proporções das 3 cores primárias produz a cor branca. Somando-se em iguais proporções duas cores, uma primária e outra secundária, obtém-se uma cor terciária.

Nessa figura menor, na parte esquerda, tem-se uma simplificação da Color Wheel do desenho grande, montada para o modelo RGB, que é o que estamos discutindo no momento. Podemos observar a disposição das cores primárias, secundárias e terciárias, indicadas respectivamente pelas letras “P”, “S” e “T”. As cores terciárias são o laranja, o verde-amarelo, o verde-ciano, o ciano-azul, o violeta e o púrpura.

Passando para o desenho da direita: trata-se também de uma simplificação da Color Wheel mas agora para o modelo RYB. O modelo RYB é o modelo clássico de cores, utilizado a centenas de anos por pintores e artistas, através do uso da intuição na disposição das cores, desde a época do Renascimento. Neste modelo, as cores básicas são o vermelho, o amarelo e o azul, consideradas entre todas as cores as que tem maior contraste visual e por isso são mais facilmente destacáveis umas das outras. É possível reparar que em relação ao disco do modelo RGB, as cores situadas entre o vermelho e o verde aparecem aqui "esticadas" de modo que do lado direito predominam cores de vermelho a verde e do lado esquerdo de azul a vermelho.

Esses discos simplificados ajudam a aprender a usar o disco maior.

Para usar o disco maior deve inicialmente ser escolhida uma cor principal, a cor chave a partir da qual serão procuradas as demais que melhor se combinam com ela. Escolhida a cor, percorrendo-se o disco, as cores harmônicas estarão situadas a cada 3 cores saltadas. No desenho do disco simplificado da direita, escolhendo-se a cor terciária ciano, suas harmônicas serão o púrpura e o laranja-amarelo. Em outras palavras, estarão nos vértices de um triângulo regular. O mesmo vale para um quadrado, ou seja, saltam-se 2 ao invés de 3 cores: são também harmônicas do ciano o magenta, o vermelho-laranja e o amarelo.

As cores opostas diametralmente no disco são as complementares, que como visto, combinam-se muito bem. Cores adjacentes umas das outras são chamadas cores similares. O maior contraste é obtido com cores complementares, o menor com cores similares.

No disco grande acontece o mesmo, porém com um gradiente maior de tonalidades de cores. E, para facilitar as coisas, existem à venda discos como esse, em lojas especializadas em material de desenho. Esses discos, impressos em papel cartão funcionam da seguinte forma: em cima do disco base (a pizza fatiada), existe um outro disco deslizante, branco, que pode ser ajustado para mostrar o relacionamento entre as cores como vimos acima, ou seja, as cores opostas diametralmente, as dispostas em um triângulo regular e as dispostas em um quadrado.

É possível também obter o disco via Internet ou até mesmo adquirir um software que permita realizar trabalhos com o modelo RYB. No entanto, deve-se colocar uma restrição à impressão doméstica do disco, em formato de imagem de computador, comparando-se com sua versão impressa em gráfica, pois a capacidade de reprodução tonal das impressoras não especializadas em trabalhos desse tipo pode com frequência distorcer e não ser capaz de reproduzir todas as nuances de cor. É o que acontece também quando se tenta imprimir um quadro (chart) de resolução de cor para teste de câmeras - a pigmentação precisa só é conseguida em gráficas especializadas, um motivo pelo qual a chart (e também o disco) terem custo significativo.

Para trabalhos não documentacionais, onde as cores tem aplicação de fundamental importância, como em publicidade e em dramas, o estudo da combinação das cores é um recurso muito valioso.

figura 1

figura 2

figura 3