O processo de composição de imagens é com certeza familiar a muitos de nós, até mesmo desde os  tempos de infância - quem nunca recortou pedaços de figuras de uma revista (com uma pequena tesoura de pontas curvas ...) para depois colá-las sobre uma figura maior ou outro papel? Apesar de rudimentar, esta operação encerra o princípio básico da composição de imagens, ou seja, recortar pedaços de uma imagem para sobrepor a outra. E antes mesmo de considerarmos seu uso em cinema e TV podemos lembrar que o mesmo processo, antes da chegada dos computadores, foi durante muitos anos utilizado na imprensa e nos meios gráficos.

Em vídeo e TV a composição de imagens em camadas (layers) que permite a sobreposição de partes de imagens diferentes umas sobre as outras é conhecida genericamente como keying. Um conhecido exemplo é o quadro do homem ou mulher do tempo, que, situados em frente a um painel colorido com determinada cor, tem sua imagem capturada por uma câmera e a seguir sobreposta a um mapa mostrando as áreas com as nuvens e indicações de temperatura em cada região.

O processo keying é dividido em duas etapas bem distintas. A primeira delas consiste em recortar esses objetos / pessoas que vão ser "colados" na outra imagem. A segunda trata da "colagem" propriamente dita. Na primeira etapa, a chave da questão é que, para que seja possível o recorte, é necessário que haja uma diferença clara entre o objeto / pessoa a serem recortados e o fundo. Assim, no exemplo dos meteorologistas, os mesmos são colocados em frente a um fundo de cor uniforme, como o verde. Suas roupas não devem possuir nada nesta cor, assim como anéis, colares, brincos e outros acessórios.

Para fazer o "recorte", basta determinar que na imagem, todos os pontos da mesma que possuírem o mesmo tom de verde devem ser considerados como transparentes (sem cor alguma). A imagem assim gerada está pronta para ser sobreposta a qualquer outra, como, no caso, o mapa em questão.

Antes do surgimento do vídeo o efeito já era empregado a muito tempo no cinema: as imagens recortadas eram produzidas através de processos químicos que agiam sobre a película retirando totalmente uma determinada cor escolhida, a cor do fundo. Conhecido como blue screen, o recorte da imagem era feito utilizando-se a cor azul para o fundo devido à maior facilidade no trabalho químico com essa cor para sua retirada.

Em vídeo, o responsável por gerar as imagens recortadas tradicionalmente era um circuito eletrônico, presente em uma mesa de efeitos ou em um video mixer (recorte via hardware). Com o advento dos computadores ganhou-se a possibilidade de fazer-se o mesmo via programa (recorte via software). Neste caso, o que possibilitou o emprego desses efeitos foi o uso do alpha channel, também conhecido como key channel, o canal da transparência das imagens.

O processo de recorte no keying da imagem pode ser feito de várias maneiras, cada uma delas recebendo um nome específico. Assim, o processo baseado na exclusão de determinada cor recebe o nome de cromakey. E existem processos como o lumakey onde a diferenciação não é feita através de cor e sim da variação de luminosidade nos diversos pontos das imagens sobre um fundo preto. Seja qual for o processo, é fundamental para o êxito do efeito a técnica de iluminação empregada, que permitirá fazer o recorte com precisão ao destacar nitidamente os objetos / pessoas recortados de seus respectivos fundos.

Escolhendo a cor do fundo

Embora possa ser feito com qualquer cor, o efeito geralmente é melhor realizado se a cor a ser tornada transparente for uma das cores básicas do sistema RGB (Red, Green, Blue). Como o processo baseia-se, para o sucesso do recorte, no fato de que a cor a ser tornada transparente não exista no objeto / pessoa a serem recortados, normalmente para pessoas não é escolhida a cor vermelha, pois esta, em maior ou menor grau, já é componente da pele das mesmas. Por outro lado, para objetos, qualquer uma dessas cores pode ser empregada como fundo, norteando-se a escolha da cor a existência ou não de tonalidades desta sobre o objeto em primeiro plano. Para pessoas, a cor geralmente escolhida é o verde. O azul possui vantagens, como o maior contraste com os tons de pele mas permite falhas no processo se a iluminação for proveniente da luz solar, cuja temperatura de cor tende para o azul: o primeiro plano passará a apresentar em algumas partes tonalidades desta cor, condição para que esses pixels sejam tornados (erroneamente) transparentes.

O recorte da imagem no entanto nem sempre é livre de problemas. Imperfeições aparecem principalmente nas bordas da imagem recortada e diversas providências podem eliminá-las totalmente ou suavizá-las / disfarçá-las ao máximo. Uma delas é o ajuste fino da tonalidade de cor escolhida, feito no programa de edição. Outras providências são fazer com que a roupa utilizada pela pessoa não possua nenhuma parte em tom parecido com o fundo e evitar contornos "complicados". Estes últimos referem-se por exemplo a fios soltos de cabelo, ao invés disso, os cabelos quando longos devem estar presos e de preferência com os fios fixos com algum tipo de gel.

Iluminando fundos

O fator mais importante no fundo utilizado no processo de keying de imagens é a uniformidade do mesmo:  é preciso que esta tonalidade esteja uniformemente presente no fundo. Existem à venda tecidos especialmente fabricados para trabalhos em cromakey, onde a coloração segue um padrão uniforme em uma das cores padrão verde, azul ou vermelho. Existem também papéis para fundos de cromakey, assim como tintas especiais.

Mas a constituição da superfície de fundo é somente parte do processo: a mesma deve ser, como visto acima, uniformemente iluminada. Normalmente os softwares de composição ao efetuarem o keying utilizam um intervalo muito pequeno de variação na tonalidade da cor escolhida. Assim, para o efeito ser preciso, é necessário evitar variações de tonalidade ao longo da superfície toda do fundo, o que se consegue com iluminação adequada. Não são permitidas áreas de sombra ou com iluminação diferente em relação à outras áreas.

Existem hoje em dia ferramentas sofisticadas de composição empregadas no segmento profissional, que conseguem compensar ligeiras variações de luminosidade no fundo, permitindo uma maior proximidade da pessoa recortada em relação ao fundo, chegando até mesmo a possibilitar que a mesma toque a tela de cromakey (homem / mulher do tempo apontando um local no mapa por exemplo). É assim que ocorre atualmente nos grandes estúdios de TV e nas produtoras que empregam o recurso do cromakey na geração de imagens.

No entanto, para programas utilizados em aplicações mais simples a regra deve ser sempre a separação física entre o primeiro plano e o fundo.

Como geralmente o primeiro plano também recebe sua própria iluminação, algumas considerações devem ser feitas. Em primeiro lugar, a luz que ilumina o primeiro plano não pode atingir o fundo, sob pena de alterar a uniformidade de sua iluminação. Para que isso ocorra, esta luz deve ser focada apenas no objeto / pessoa a serem recortados, o que se consegue com o auxílio de flags e barndoors instalados nos refletores. Isso também evitará, em parte, que a sombra desse objeto / pessoa seja projetada no fundo. Para facilitar pode-se desligar completamente a iluminação do fundo enquanto são feitos os ajustes nas luzes do primeiro plano, observando sempre se alguma parte dessas luzes atingem o fundo.

Como providência complementar para que a sombra dos mesmos não apareça sobre o fundo, é fundamental manter uma boa distância deles até o fundo (1,2m no mínimo). Esta providência também evitará um outro problema: diminuirá bastante a intensidade da luz refletida pelo próprio fundo sobre o primeiro plano. Isso porque quando o fundo é iluminado, sua luz também atinge, por trás, a pessoa ou objeto que estão sendo recortados. Quando isso acontece, forma-se o que se chama de halo em volta do contorno do primeiro plano, fazendo com que trechos desse contorno desapareçam. Para diminuir ao máximo essa possibilidade é que, entre outras providências, o primeiro plano deve estar longe do fundo.

Para iluminar o fundo não devem ser empregados refletores que emitam facho de luz concentrada. Como a superfície deve ser iluminada da forma mais uniforme possível, devem ser empregados refletores com suavização no facho de luz, com o auxílio de gelatinas translúcidas ou soft boxes.

A chave para o efeito funcionar é a iluminação separada do fundo e primeiro plano. Em um dos esquemas mais utilizados duas fontes de luz suavizada iluminam, uma de cada lado, o fundo para cromakey. À sua frente situa-se distanciada do fundo uma pessoa que fala para a câmera. Esta pessoa por sua vez é iluminada por uma luz principal à direita e uma luz de preenchimento à esquerda. A luz principal é protegida com os barndoors do seu refletor para não atingir o fundo, enquanto a secundária não o atinge devido ao ângulo em que a mesma está instalada.

Atrás e acima da cabeça da pessoa encontra-se uma luz do tipo contra-luz, que serve para iluminá-la por trás e assim destacá-la do fundo. A contra-luz tem como finalidade aumentar o contraste entre a pessoa e o fundo, iluminando por trás suas roupas e cabelo para facilitar a separação com o fundo. Sendo uma luz mais intensa do que a que é refletida pelo próprio fundo por trás do primeiro plano, suplanta-a eliminando seu efeito nocivo -o halo citado acima. Deve-se também cuidar, com o emprego de barndoors, para que partes da mesma não atinjam a superfície de cromakey logo atrás. Gelatinas de cor âmbar produzem efeitos interessantes nessa luz.

Este é um dos esquemas mais tradicionais de iluminação para cromakey, mas outros existem. Por exemplo, abandonar completamente o conceito de refletores independentes para o fundo e o primeiro plano, adotando refletores que iluminam tanto um como outro. De concepção mais simples, este esquema emprega apenas duas luzes suavizadas e mais nenhuma outra. Os refletores são cuidadosamente posicionados para que sua luz atinja lateralmente a superfície de cromakey ao fundo. Ainda outro esquema emprega 2 bancos de luzes fluorescentes (do tipo corrigidas para temperatura de cor, de preferência), colocadas uma de cada lado da tela de cromakey.

Outra possibilidade para iluminar o fundo é o uso de dois refletores do tipo soft box colocados próximo e acima da superfície do fundo, inclinados em um ângulo em torno de 60 graus em relação à linha perpendicular à superfície do mesmo. Essa abordagem é interessante pois a maior parte da luz desses refletores será desviada para o chão, após atingir o fundo, evitando assim iluminar o primeiro plano por trás. Uma providência útil é fazer com que o piso logo à frente da tela de cromakey tenha a mesma cor do mesmo ou pelo menos seja não reflexivo, para evitar reflexões com luzes de cores indesejadas sobre o primeiro plano.

Assim, seguindo estas dicas, poderemos obter recortes mais perfeitos e melhor trabalhados. Mãos à tesoura!