Ao assistir durante anos filmes, DVDs, noticiários e novelas na TV, além de muitos outros conteúdos veiculados tanto na telinha como na telona, uma conclusão é certa: a criatividade na confecção de títulos é enorme. Os títulos mais criativos estão no cinema, mesmo porque o tamanho grande da tela favorece a "dança" de letras e palavras nas imagens iniciais do filme. Aliás, até nessa localização existem variações: algumas vezes o título da obra aparece antes das primeiras cenas surgirem, em outras, um pouco depois, muito depois ou simplesmente não aparece.

Mas como nosso objetivo aqui é criar um título, podemos começar pensando na maneira mais simples de fazê-lo, envolvendo tão somente a câmera nesta tarefa. O título pode estar embutido nas próprias imagens capturadas: em um vídeo de férias é a placa na entrada da cidade, ou ainda na estrada, apontando para o que virá a seguir. Pode ser a placa na entrada do parque ou o nome do aniversariante na decoração do salão de festas. Nem sempre nessas situações não-profissionais há espaço para planejamento - você ver a placa com o nome do parque somente ao sair dele. Nada que a edição posterior não resolva, colocando cada coisa em seu devido lugar: grave a imagem da placa. A dica é ficar atento a essas situações: a tendência é pensarmos nas placas e cartazes somente como nossa orientação, mas eles podem-se transformar em excelentes indicativos para quem assiste o vídeo.

Uma outra possibilidade, também ao alcance dos equipamentos domésticos mais simples, é buscar o recurso de sobreposição de títulos existente na maioria das câmeras desse segmento. Através da seleção de uma função específica e o uso de um pequeno dial, muitos equipamentos permitem a digitação de pequenos textos para serem sobrepostos às imagens registradas pela câmera. Em alguns modelos é possível inclusive fazer uma escolha básica entre algumas cores e/ou tamanhos de fontes. Em outros o texto pode ser armazenado na câmera para uso posterior. No local onde determinada cena será gravada, basta acionar a função de título, selecionar o desejado e sobrepô-lo à imagem. E alguns títulos podem já fazer parte do menu original da câmera, embora com pouca utilidade em nosso meio devido ao idioma, exceto talvez o conhecido Happy Birthday...

Saindo um pouco do próprio conteúdo capturado e pensando em montar o título à parte, vamos encontrar inúmeras possibilidades, ainda sem envolver nenhuma tecnologia digital, ou seja, sem lançar mão de programas no micro destinados a este fim - lembrando que os próprios programas de edição tem geralmente um módulo destinado a montar títulos. Temos nesse caso a opção de montá-lo através do uso dos mais diferentes tipos de materiais e gravá-lo como uma cena qualquer - sem descuidar, como sempre, da iluminação adequada. A seguir, uma lista com algumas idéias, que podem ainda ser adaptadas ou servir de base para incentivar a imaginação...

Escrever o texto com tinta em um papel cartão; o guache é um desses exemplos, mas hoje em dia as possibilidades encontradas em uma papelaria são inúmeras, com canetas de ponta grossa em diversos formatos e cores. O importante é lembrar que a câmera "vê" o texto de forma diferente da qual nós o vemos: o ideal é sempre usar traços grossos e cores contrastadas. Dificilmente um título escrito com caneta esferegráfica em traço simples será legível quando visto na TV, à distância. A escrita pode ser feita com giz - uma lousa em uma escola é um exemplo, recurso muito utilizado em conteúdos relacionados à educação, sem esquecer, como já foi dito, da iluminação, observando reflexos, sombras, etc... Outra possibilidade neste caso é utilizar uma pequena lousa portátil. Ou ainda o conhecido "quadro branco", de preferência com pincéis novos - de novo a questão da legibilidade.

O título pode também ser feito no quarto das crianças: são comuns os brinquedos que apresentam blocos de madeira ou plástico representando as letras do alfabeto. Neste caso, e também no das escritas com tinta ou giz mencionados acima, é possível lançar mão de um recurso de animação existente na maioria das câmeras dos segmentos consumidor e semi-profissional, através do qual o texto pode aparecer sendo escrito trecho a trecho, letra a letra.

Embora nenhum desses equipamentos mais simples consiga fazer a clássica gravação quadro a quadro dos desenhos animados e sim gravar alguns conjuntos completos de quadros de cada vez, o efeito pode ficar muito interessante. A função time-lapse faz com que a câmera automaticamente grave durante um breve intervalo de tempo selecionável (de 0,5seg. a 2seg. por exemplo) e entre a seguir no modo pause. A seguir, um contador é acionado e após um tempo fixo, também selecionável (de 30seg. a 10min. por exemplo) a gravação se repete. Nesses intervalos entre as gravações as letras podem ser pouco a pouco escritas, ou então os blocos de madeira / plástico deslocados. Após algumas experiências, por tentativa e erro chega-se rapidamente a ótimos resultados. Um pouco mais apurada, a função frame-rec presente em alguns equipamentos permite gravar intervalos ainda menores, como conjuntos de 6 quadros por exemplo, a cada vez que um botão no controle remoto é acionado. Em ambas situações é fundamental o uso de um tripé e do controle remoto, para evitar vibrações.

Mas nossa lista de títulos não terminou: pode-se usar pedaços de palitos de fósforo; colocar um vidro grande na frente da câmera e pedir para alguém escrever com tinta spray enquanto a câmera grava (posteriormente na edição a imagem pode ser invertida horizontalmente para a escrita tornar-se legível); riscar as letras na areia da praia; jogar pausadamente cartazes sobre uma mesa com as inscrições, uns sobre outros; ir virando páginas de um livro real onde as inscrições aparecem (lembrou de já ter visto isso em algum lugar?), fazer um close em uma máquina de escrever onde as letras vão sendo escritas (idem); ir desvirando as peças de um dominó, com efeito de animação, onde do outro lado aparecem as letras; usar batom em um espelho ou em um vidro; mostrar letreiros 'escondidos', como plaquinhas em um sanduíche que "viram" sozinhas (de novo a animação); fazer um close nas mãos de alguém que abre e mostra um convite; gravar os títulos aparecendo na tela do micro; o mesmo na tela da TV; usar tinta à óleo sobre tela; usar tiras plásticas escritas por rotuladores; usar bordado em tecido (com opção de animação); usar um carrinho de brinquedo caminhando sobre um mapa para indicar determinado percurso (com animação, outro exemplo "clichê"); enfim, as possibilidades são inúmeras.

Indo em direção ao micro e antes de chegar ao programa de edição, vamos encontrar a impressora. Ali também podem ser montados títulos, bastando imprimí-los e gravá-los a seguir com a câmera. O papel pode ser colado na parede, ser fixado em um suporte para partituras ou ser mantido em pé preso ao dorso de livros. Ou ainda colocado no chão ou na superfície de uma mesa. Em todos esses casos também é recomendável o uso do tripé e controle remoto. A câmera deve ser posicionada de modo que a linha que liga a lente da câmera ao papel fique perpendicular ao mesmo. Se isto não for feito, ocorrerão distorções nas linhas retas das letras.

Papéis brilhantes para impressão de fotos e transparências devem ser evitados, devido ao problema dos reflexos - o ideal é utilizar o papel comum utilizado na impressora no dia a dia. Após a impressão a folha deve ser deixada de lado por alguns minutos até a tinta secar completamente, tomando-se o cuidado de não curvá-la / flexioná-la: o papel assimila facilmente ondulações que se tornam permanentes; estas ficarão visíveis no vídeo, uma vez que a iluminação utilizada sempre é a lateral.

A outra possibilidade é a composição do título na fase de edição. Aqui vamos encontrar tanto o módulo de geração de títulos presente na maioria dos programas de edição como também programas especializados nessa tarefa. Podem ainda serem usados programas de manipulação de imagens digitais, como o Photoshop ou o After Effects por exemplo. As possibilidades são muitas e o título após finalizado pode ser importado para o programa de edição para integrar o conteúdo que está sendo editado.

Neste caso, alguns cuidados devem ser tomados na criação dos textos. Um deles é deixar sempre margens de segurança nas bordas: o aparelho de TV 'corta' sempre um pequeno pedaço da imagem, tanto na direção vertical como na horizontal. Aliás, a maioria dos editores de títulos possui a indicação da chamada "safe area" através de linhas na tela onde se digitam os textos.

Em relação ao uso de cores, outros cuidados, como evitar cores facilmente saturáveis como o vermelho por exemplo - esta cor possui tendência a "vazar" para fora da área delimitada pelas letras. O problema, praticamente inexistente na tela do micro, certamente aparecerá na tela do monitor ou TV alimentada com o sinal de vídeo. Se for necessário o uso dessa cor, uma forma de amenizar bastante o problema é usar um contorno externo às letras (outline) na cor preta.

Outro conselho é sempre verificar as cores através de um monitor de TV antes de efetuar a gravação definitiva, ou seja, gravar um pequeno teste e reproduzí-lo para ser visto em uma TV comum, não no monitor do micro: a maioria das cores não é reproduzida da mesma maneira no micro e na TV, em termos de tonalidade, brilho, etc...

Outro cuidado é com o tipo de fonte utilizado nas letras, observando suas características "sem serif" e "com serif". Em fontes de letras, o termo "serif" indica as pontas finas que fazem parte do desenho das mesmas. Assim por exemplo, o fonte "Times New Roman" possui as extremidades da letra "S" maiúscula em forma de pontas afinadas, o mesmo não acontecendo para os fontes "Arial" e "Helvética". Para melhor legibilidade em vídeo (cujo conteúdo pode vir a ser mostrado não só em grandes telas com boa definição com em telas pequenas de TVs convencionais) o ideal é utilizar fontes com letras sem essas pontas, conhecidos como "sans serif" (sem serif). A resolução da tela da TV é menor do que a do micro: títulos que se parecem ótimos no micro podem não ser bem legíveis na TV. Assim, além da questão do "serif", devem ser evitados fontes de tipos pequenos, com detalhes e muitos recortes.

Ainda outro cuidado é no momento de colocar o título sobre uma imagem qualquer: deve-se ter em mente que o título, e somente ele (suas letras), é importante. Programas de edição permitem o uso de efeitos os mais variados possíveis, como colocar uma moldura ao redor da imagem com o título ao centro. Como opção, essa moldura pode ser animada, com variação de formas e cores. O resultado final é que a moldura pode acabar chamando mais a atenção do expectador do que o próprio título, "sugando" sua atenção, daí o termo "vampirismo" para esse problema. Existem diversas situações e variações de vampirismo. Letreiros podem ser utilizados durante um programa para indicar o nome de alguém concedendo uma entrevista. Neste caso, sua única finalidade é informar o nome e por isso, deve ser o mais simples e discreto possível. O expectador deve ter sua atenção desviada somente para ler o título e voltar a ver a imagem, e não para ficar observando alguma animação interessante efetuada sobre o mesmo. Já na abertura de um programa, tudo o que se quer é chamar a atenção sobre o título, caso inverso, onde ele é o mais importante e portanto pode receber todo o destaque possível.

Na tela, por quanto tempo? Esta é outra questão, ligada à fase final do processo, quando, na edição, vamos definir o tempo em que o título ficará aparecendo na tela. Títulos devem ser mantidos na tela o tempo suficiente para que o público possa lê-los mas... como calcular este tempo? Uma regra simples é calcular o tempo lendo o texto em velocidade menor do que a habitual, imitando alguém com leitura vagarosa; se para este tipo de leitura o tempo for suficiente, com certeza também será para os demais assistentes.

Agora basta escolher alguma dessas idéias, inventar outras, criar, modificá-la e pronto: um novo título estará pronto!