Você com certeza já vivenciou a situação: estando em um ambiente muito escuro, assistindo a apresentação de alguns slides em uma palestra, o assunto termina e alguém então repentinamente acende a forte iluminação fluorescente da sala, para que os participantes saiam. A primeira reação é fechar quase que totalmente os olhos: a claridade incomoda. Na verdade a nossa pupila estava, no escuro, dilatada, deixando através de um largo orifício entrar bastante luz em direção à retina, onde são formadas as imagens. Na presença da luz, a pupila tem que se contrair para diminuir sua abertura e reduzir assim a entrada de luz. No entanto este movimento de adaptação não é muito rápido e a solução é se valer das pálpebras, enquanto aguardamos a pupila contrair-se. Enquanto isso não acontece, tudo parece muito claro demais e a imagem que enxergamos é lavada e sem definição.

Isso mostra que a luz tem que ser dosada, que existe uma quantidade ideal para formar corretamente as imagens em nossos olhos e que o mais e o menos são controlados através da pupila. Na câmera fotográfica e de cinema acontece a mesma coisa: a retina é o filme e a pupila é a íris. E na câmera de vídeo o processo também é equivalente: aqui a retina é o CCD (Charge Coupled Device, a pequena placa - chip - sobre a qual as lentes projetam as imagens) e a pupila também é a íris.

E as semelhanças não param por aí: nosso cérebro é o responsável por analisar a imagem projetada na retina e determinar se a pupila tem que abrir ou fechar mais para obter a exposição correta, enviando sinais elétricos através dos nervos que acionam os músculos responsáveis pelo controle dessa abertura na pupila. Na câmera, existe um 'cérebro' também, o controle automático de exposição, responsável por analisar a imagem e determinar qual abertura da íris fará a imagem ficar melhor. Sinais elétricos são enviados através de fios (os nervos) para micromotores (os músculos) que acionam o mecanismo de controle de abertura da íris (a pupila).

O filme (fotografia e cinema) é composto por milhares de minúsculos cristais de prata, que vão sofrendo uma transformação química à medida que recebem mais e mais luz. Por isso, não podem receber luz indefinidamente, somente por uma fração de tempo, o suficiente para diferenciar as partes mais claras das mais escuras da imagem (mais e menos cristais modificados). Esta é a função do obturador, que expõe o filme à luz durante um tempo 'x' pré-determinado. Na câmera de vídeo, também existe o obturador, porém ao invés de ser físico (uma lâmina que esconde o filme da luz) é eletrônico (as cargas elétricas acumuladas com o tempo de exposição à luz no CCD vão sendo 'limpas' em intervalos pré-determinados de tempo).

É o trabalho conjunto desses 2 elementos, o obturador e a íris, que determina, nas câmeras fotográficas, de cinema e de vídeo, a exposição utilizada para formar as imagens. O controle automático de exposição (AE Program ou auto-exposure) está presente em todas as câmeras de vídeo; se estiver desativado, pode ser ligado através de botões ou de opções selecionadas de um menu). Trata-se de um programa (software) que ajusta automaticamente a velocidade do obturador e a abertura do diafragma de acordo com as condições de luz do local para onde a câmera é apontada. O programa efetua medições em alguns pontos pré-definidos da imagem, obtém uma média e com isso determina se a quantidade de luz é excessiva ou não. Como é um processo 'não-inteligente' , não tem como saber quais áreas claras / escuras da imagem o operador do equipamento quer preservar ou corrigir, exigindo muitas vezes correções ou até mesmo o ajuste totalmente manual para se obter a exposição desejada.

Normalmente o controle automático de exposição oferece 3 possibilidades:

1) controlar automaticamente tanto o obturador como o diafragma em função da medição das condições de luz.

2) oferecer ao operador a possibilidade de escolher a abertura: o controle determina então automaticamente qual deve ser a velocidade do obturador para se obter a exposição correta, em função da medição das condições de luz (é o que se chama aperture priority)

3) oferecer ao operador a possibilidade de escolher velocidade do obturador: o controle determina então automaticamente qual deve ser a abertura para se obter a exposição correta, em função da medição das condições de luz (é o que se chama shutter priority).

Além dos programas básicos acima, muitas câmeras possuem programas especiais de exposição (os chamados AE program modes), que efetuam automaticamente diversos ajustes voltados para determinada situação específica do ambiente e cena a ser gravada. Entre estes ajustes, além da velocidade do obturador e abertura do diafragma, também está o balanço do branco, de acordo com a tonalidade de luz dominante na cena. E entre as situações, cenas de esportes (sport program mode) onde geralmente há muita luz e movimentos rápidos e portanto a velocidade do obturador é aumentada para permitir o congelamento dos mesmos, retratos (portrait program mode) onde geralmente se deseja desfocar o fundo, em um enquadramento do rosto da pessoa, e portanto a abertura é aumentada assim como a velocidade do obturador para compensar a maior luminosidade, cenas noturnas (twilight program mode) onde geralmente há grandes contrastes entre regiões mais iluminadas e outras não, cenas em exteriores (outdoor program mode) onde o excesso de luminosidade (que prejudica a boa reprodução das cores) é reduzido aumentando-se ligeiramente a velocidade do obturador, e outras mais, dependendo da marca e modelo do equipamento.

Como foi dito, nem sempre o resultado obtido pelo controle automático de exposição é o melhor. Um exemplo clássico é a cena de uma pessoa no interior de uma sala, diante de uma janela de vidro por onde entra bastante claridade. A câmera, situada também no interior da sala, ao fazer o enquadramento em plano médio (linha da cintura) da pessoa registra excesso de luminosidade, o que faz com que o controle automático de exposição feche a íris até obter um valor de luminosidade que não provoque o efeito de superexposição da imagem. Este valor, calculado pelo circuito eletrônico através da média de luminosidade que atinge toda a área do CCD, faz com que a íris seja fechada só se o que predominar na imagem for a claridade da janela. E o efeito disso (geralmente indesejado) é que a janela fica exposta corretamente e o rosto e o busto da pessoa ficam subexpostos (em silhueta). Se, no entanto a pessoa estiver diante da mesma janela, porém o enquadramento for modificado para um close de seu rosto, de modo que ele ocupe a maior parte da imagem, o efeito de silhueta praticamente não ocorrerá.

É na primeira situação descrita acima que atua um controle conhecido como backlight: acionando-se esta função (normalmente através de um botão), a íris é aberta um determinado número de pontos, de maneira que a situação se inverte: o corpo da pessoa fica corretamente exposto e a janela fica super-exposta. Este botão portanto só possui efeito em situações de grandes contrastes na imagem, polarizados em uma região clara e outra escura, onde basicamente a região clara ficará ainda mais clara e a escura será clareada. No olho humano ocorre o mesmo: tente olhar para rosto de alguém na sombra, porém com um fundo muito claro por trás. A claridade faz com que a pupila se feche (abertura menor da íris na câmera) e passemos a enxergar o rosto da pessoa com dificuldade, dizemos que a claridade está ofuscando a vista. E continuaremos a enxergar assim, uma vez que ninguém de nós possui um botão backlight...

No entanto, o maior e mais preciso controle da exposição só é conseguido através do modo manual ou semi-automático de ajuste da íris (que câmeras mais simples não possuem). Neste caso, o ajuste da íris pode ou não interagir com o controle automático de exposição. A interação ocorre se for escolhido um dos AE programs descritos acima, o aperture priority. Com este programa, escolhe-se a abertura (geralmente através de um pequeno disco giratório que aciona a íris) e a câmera por sua vez 'escolhe' a velocidade necessária para obter a correta exposição (baseando-se, como sempre, na média de luminosidade lida no CCD). Em outras palavras, este é um modo de ajuste semi-automático. No modo totalmente manual de ajuste da íris, a velocidade é escolhida, geralmente através de uma opção de menu (por exemplo 1/15 seg) e o operador gira o disco de controle da íris até obter a exposição desejada para a imagem.

Nestas câmeras, um recurso muito útil em determinadas situações é o chamado zebra pattern. Quando ativado, a câmera passa a exibir no visor (ou no LCD) as partes da imagem que estão superexpostas (com excesso de claridade) hachuriadas com listras diagonais. Estas listras não fazem parte da imagem (não são gravadas na fita), mas servem de guia para o operador da câmera, que pode então acionar o botão de controle da abertura da íris ou a velocidade do obturador de forma a alterar os parâmetros de exposição reduzindo a superexposição, até que as listras desapareçam.

Finalmente, uma importante os profissionais sabem que somente o visor ou LCD da câmera não bastam para a correta avaliação da exposição das imagens captadas pela câmera. É necessário o uso de um monitor, acoplado à mesma através do cabo de saída de vídeo. Através do monitor, algumas falhas podem se corrigidas diretamente na câmera, falhas estas muitas vezes imperceptíveis no pequeno visor do equipamento ou ainda na tela do LCD, que acabam servindo mais como guia de enquadramento. Boas exposições !!!